A verdadeira ‘nova direita’ estava e ainda está nas grandes manifestações populares de 2013
Por Francisco Escorsim
11/10/2024 16h27 - Atualizado em 11/10/2024 às 16h27
O leitor deve estar a par das críticas que o pastor Silas Malafaia fez a Jair Bolsonaro depois do resultado do primeiro turno das eleições de 2024, chamando-o de “porcaria de líder”. Como o caso é sintomático, acho que vale a pena retomar o que apontei em 2018, recordei na coluna da semana seguinte ao famigerado 8 de janeiro de 2023, assim como na coluna de semanas atrás sobre o fenômeno do “coringamento” da direita. Pois peço licença e desculpa, mas vou repetir o que vale a pena ser repetido de novo:
“A verdadeira ‘nova direita’ estava e ainda está nas grandes manifestações populares de 2013 em diante: uma massa informe cansada de ser tutelada pela classe política, seja de esquerda ou direita, mas incapaz de se expressar direito, não sabendo bem o que quer porque não sabe nem sequer contar a história direito de como chegamos aonde chegamos.”
Por isso, considero que a votação expressiva de Pablo Marçal em São Paulo e de Cristina Graeml em Curitiba diz menos dos candidatos que dos seus eleitores. Não foram por suas qualidades ou propostas que ambos receberam tantos votos, mas por seu discurso disruptivo contra o sistema político ser o que esperam os eleitores da direita, tal como Bolsonaro fez um dia e se tornou quem se tornou justo por isso.
A quem Bolsonaro deve mais lealdade: aos políticos de quem depende para sobreviver no sistema ou aos eleitores que o colocaram lá?
É por saber disso – aliás, por não esquecer disso – que Bolsonaro ficou em cima do muro agora, não embarcando de fato nas campanhas de seus próprios candidatos nas duas capitais por ter outros que melhor abraçaram aquele discurso “raiz”. A quem Bolsonaro deve mais lealdade: aos políticos de quem depende para sobreviver no sistema ou aos eleitores que o colocaram lá?
Bolsonaro está tentando ser fiel a ambos até onde for possível. Em São Paulo, deve estar aliviado, pois, sem Marçal, pode “entrar de cabeça” na campanha, como andou dizendo. E em Curitiba? Provavelmente manterá a postura do primeiro turno, distante, jogando dos dois lados, tentando não se comprometer com ninguém para, no fim, manter ambos os lados dependendo do seu apoio, ganhe quem ganhar.
A crítica de Malafaia tem a ver com a falta de lealdade do ex-presidente a seus aliados políticos do momento. Mas e os eleitores, os “liderados”, pastor? Essas mesmas alianças significam também uma infidelidade a eles, aos valores e princípios que alçaram Bolsonaro ao posto de liderança maior da direita. A pergunta acima se volta a Malafaia, portanto: “a quem Bolsonaro deve mais lealdade: aos políticos de quem depende para sobreviver no sistema ou aos eleitores que o colocaram lá?”