Os investidores estrangeiros, incluindo fundos e institucionais americanos, retiraram R$ 3,5 bilhões da Bolsa de Valores brasileira (B3) até 15 de julho, interrompendo dois meses seguidos de entradas líquidas relevantes no mercado de ações.
Choque e contexto
A queda sinaliza um claro recuo da confiança internacional no mercado brasileiro. Em média, o mês acumula um fluxo negativo de R$ 1,1 bilhão apenas no dia 15, o que levou o Ibovespa a registrar sete pregões seguidos em queda entre os dias 7 e 15 de julho.
Na quarta (16), o índice teve uma leve recuperação, mas voltou a cair na quinta-feira, fechando em 135.100 pontos, uma retração de –2,7% no acumulado do mês.
Fatores por trás da fuga de capitais
- Tarifas americanas de 50% – O anunciado “tarifaço” dos EUA contra produtos brasileiros desestimulou investimentos estrangeiros. O acumulado de saídas no mês chegou a R$ 4,5 bilhões, considerando medidas tarifárias e reações no mercado.
Cenário fiscal e político – Preocupações com incertezas nas contas públicas e instabilidade política vêm pesando nas prioridades dos investidores globais
Consequências no mercado financeiro e câmbio
- Menor liquidez: a saída de recursos reduz o volume negociado na B3, dificultando operações e inflacionando o custo de financiamento.
- Volatilidade no real: o fluxo negativo pressiona a moeda, alimentando incerteza cambial e aumento do risco Brasil.
- Impacto setorial: segmentos intensivos em capital estrangeiro, como commodities, bancos e infraestrutura, sofrem efeito direto da retração de investimentos.
Como reagiu o mercado
Segundo Rafael Furlanetti, sócio-diretor da XP, a eventual continuidade desse movimento converte o investidor estrangeiro em “o principal comprador do ano” que virou vendedor. Na sua avaliação, "se o investidor estrangeiro começar a vender, será difícil encontrar um comprador marginal".
Além disso, agentes de mercado acompanham de perto desdobramentos do pacote de tarifas e eventuais decisões do governo brasileiro sobre fiscalização e política fiscal — fatores que podem reverter ou agravar a tendência atual.
Cenário futuro
O mês começou com expectativa positiva: maio trouxe entrada líquida de R$ 10,6 bilhões, seguida por junho com +R$ 5,4 bilhões, acumulando saldo positivo de R$ 23,0 bilhões no ano.
Contudo, o choque de julho abre cenário incerto para o restante de 2025. A recuperação do apetite externo dependerá de:
- Diálogo com os EUA sobre tarifas e comércio;
- Sinais robustos de ajuste fiscal e reformas no Brasil;
- Mudança na política de juros do Federal Reserve, que torne os EUA menos atrativos comparativamente.
A queda de R$ 3,5 bilhões em julho retrata a vulnerabilidade do mercado brasileiro a choques externos — sejam tariffários, monetários ou políticos. Com uma aparente separação entre o comportamento dos investidores estrangeiros e dos investidores locais, a volatilidade diária pode aumentar, elevando os custos de financiamento e complicando a previsão para o real. O segundo semestre de 2025 será decisivo para definir se o capital internacional retorna gradualmente ou se o Brasil enfrentará novo ciclo de saídas.