Seja pelo envolvimento com a política ou pela ousadia à frente da Havan, o empresário catarinense Luciano Hang, de 62 anos, mostra não ter freios com crenças e metas. Com uma visão de crescimento acelerado, o "Véio da Havan" se prepara para injetar R$ 2 bilhões em sua varejista até 2026, impulsionando a expansão de lojas, aprimorando a logística e, de quebra, investindo pesado em causas sociais.
O montante se encaixa em um objetivo ambicioso da Havan: completar 200 megalojas até 2026, ano em que a empresa celebra 40 anos de história. Segundo Hang, a maior parte do caminho está pavimentada.
"Todos os terrenos estão praticamente comprados para que a gente possa chegar em 2026 com as 200 megalojas", afirma à Gazeta do Povo. O plano inclui conquistar outros mercados, com a chegada a estados onde a Havan ainda não fincou bandeira. "Queremos chegar a todos os estados, para isso, vamos construir megalojas nos três estados que estão faltando. Elas serão em Macapá (AP), Boa Vista (RO) e Fortaleza (CE)", revela o empresário.
Hang enfatiza o impacto direto e indireto na geração de empregos. "Queremos chegar a mais de 25 mil colaboradores em todo o país", afirma o empresário. Priorizando fornecedores nacionais, a Havan possui um efeito multiplicador na economia.
"Nós compramos 92% dos produtos de empresas brasileiras, não só geramos empregos no nosso comércio, mas geramos empregos nas indústrias nacionais. Cada emprego no comércio gera cinco empregos na cadeia produtiva. Ou seja, nós temos, praticamente, 130 mil colaboradores indiretos", estima Hang.
Havan luta contra burocracia no caminho para o crescimento
Apesar do otimismo e dos investimentos bilionários, nem tudo é um mar de rosas para Hang. O empresário é categórico ao apontar a burocracia como principal obstáculo no caminho do crescimento acelerado. "Estamos correndo atrás dos alvarás, que é o mais difícil", explica ele.
"Comprar terreno não é difícil, comprar a obra não é difícil, contratar colaboradores não é difícil. O mais difícil é sempre correr atrás dos alvarás. Infelizmente, a burocracia continua, em algumas cidades, sendo o principal empecilho para o nosso crescimento", lamenta.
E o incômodo não é novidade. Em 2019, por exemplo, o empresário se fantasiou de "Capitão Brasil" e inaugurou em um de seus terrenos uma placa de "Atrasomêtro". Com ela, Hang mostrava o número de dias que já havia esperado para receber o alvará de liberação para a construção. "A burocracia é a mãe da corrupção e responsável pelo atraso do Brasil. Vamos à luta por um país que tem pressa!", declarava Hang na descrição do vídeo em que anunciava a novidade.
Para assegurar que a estrutura acompanhe a ambição de 200 lojas, Luciano Hang anunciou neste mês de julho um investimento colossal no centro de distribuição da Havan em Barra Velha (SC). Serão R$ 250 milhões aplicados na ampliação do que ele classifica como um dos maiores e mais tecnológicos da América Latina.
"Vamos sair de 200 mil metros quadrados de área construída para 250 mil metros quadrados", explica. Isso equivale a cerca de 35 campos de futebol oficiais.
A modernização também inclui a aquisição de um equipamento automatizado avaliado em R$ 150 milhões. "Vamos comprar mais um transelevador de última geração para que a gente possa cada vez mais crescer as nossas lojas sem sufocar a nossa logística. Já está tudo acertado e começamos a construir ainda este ano. Nos próximos meses estaremos com essa ampliação pronta", diz Hang.
A empresa movimenta cerca de um milhão de produtos por dia no local — número que deve crescer com a implementação da nova tecnologia. O impacto desse investimento vai além da Havan, impulsionando a economia local. Segundo a prefeitura de Barra Velha, o centro é a fonte de renda para 2,5 mil famílias.
"Na nossa chegada, há 15 anos, Barra Velha tinha em torno de 20 mil habitantes. Hoje está chegando a 60 mil habitantes. É uma das cidades que mais cresce no Brasil", orgulha-se Hang.
O "véio" filantropo
Apesar do foco nos negócios, Hang reforça a visão de que empresas grandes têm um papel social. "Um advogado meu, há muito tempo, Euclides Cardeal, dizia que uma empresa que tenha mais de 100 colaboradores passa a ser uma instituição da sociedade", reflete. Essa filosofia se materializa em ações como o investimento no Hospital Azambuja, em Brusque (SC), onde Hang atua como vice-provedor há mais de 20 anos.
Em abril deste ano, as transformações do Hospital Azambuja foram amplamente divulgadas. Entre as melhorias, destacam-se a reforma de novos leitos, a instalação de equipamentos de hemodinâmica e a implantação da cirurgia robótica. Outro ponto alto é a nova torre de seis andares e sete mil metros quadrados, que abriga um setor de oncologia de 2 mil metros quadrados.
Contudo, a estrutura, que recebeu mais de R$ 10 milhões em investimentos de empresários nos últimos anos, ainda aguarda uma etapa crucial para atender a população. "Nossa prioridade agora é garantir que esse setor possa começar a funcionar o quanto antes, facilitando a vida dos pacientes da região", ressaltou o empresário, referindo-se à autorização do governo federal para a habilitação do serviço.
Ainda para 2025, o hospital tem novos projetos, incluindo a criação de uma clínica de radioterapia, a aquisição de um segundo equipamento de hemodinâmica e a modernização das estruturas do pronto-socorro, ambulatório e centro de imagens.
Aos negócios, Hang também já desenha os passos da Havan para além de 2026. Para ele, a experiência do cliente é o diferencial. "Como sempre falo, nós queremos pensar como cliente e oferecer uma experiência única. Nós acreditamos que é dessa forma que a Havan vai continuar crescendo."
E essa busca pelo "encantamento" o leva a uma rotina intensa. "No ano passado visitei 180 lojas, abracei todos os colaboradores", conta ele.
