O destino do julgamento de Jair Bolsonaro (PL) e de outros sete réus sobre a suposta tentativa de golpe em 2022 tende a ser um divisor de águas para o próprio Supremo Tribunal Federal (STF). Ao insistir em manter o processo na Primeira Turma, Alexandre de Moraes projeta para o futuro um modelo de julgamento cada vez mais concentrado em sua condução e menos dependente do debate colegiado pleno.
Se confirmada a condenação, o resultado pode abrir um precedente duradouro: casos de grande repercussão nacional sendo analisados em turmas restritas, sem a participação de todos os 11 ministros. Para críticos, isso consolidaria um poder de agenda inédito nas mãos de Moraes, capaz de definir não apenas o conteúdo dos votos, mas até mesmo quem terá voz no julgamento.
A divergência aberta por Luiz Fux, que questionou a própria competência do STF e pediu a anulação da ação penal, pode se transformar em ponto de inflexão. Caso mais ministros se aproximem desse entendimento, o embate não será apenas sobre Bolsonaro, mas sobre o futuro da Corte — plenário ou turmas reduzidas, colegialidade ou centralização.
Ao mesmo tempo, a escolha de Moraes alimenta previsões de maior instabilidade política. Se de um lado a condenação de Bolsonaro enfraquece seu capital eleitoral, de outro fortalece a narrativa de perseguição e parcialidade, que deve se projetar como combustível para campanhas, manifestações e disputas judiciais futuras.
O que hoje se desenrola na Primeira Turma pode se transformar em referência histórica: um julgamento que não apenas definiu o destino de Bolsonaro, mas também reposicionou a arquitetura de poder dentro do STF, com Alexandre de Moraes no centro da cena.