A notícia de que Adélio Bispo de Oliveira — o homem que atentou contra a vida do então candidato à Presidência da República Jair Bolsonaro, em 2018 — poderá deixar a prisão em breve causou revolta em grande parte da população e reacendeu o debate sobre a impunidade no Brasil.
Segundo informações publicadas pela imprensa nacional, um ofício do governo de Minas Gerais teria oferecido uma vaga para tratamento ambulatorial em Montes Claros, cidade natal de Adélio. Tal documento, segundo a publicação, poderia abrir brecha para a libertação do agressor, sob a justificativa de “tratamento fora do sistema prisional”.
O caso, contudo, vai muito além da questão médica: trata-se de um teste moral e institucional para o país.
Desde o atentado em Juiz de Fora, em 2018, a narrativa construída por setores ideológicos tenta suavizar o crime cometido contra um candidato em plena campanha eleitoral — um ato que poderia ter alterado o curso da democracia brasileira.
Adélio foi declarado inimputável, sob alegação de doença mental, e desde então cumpre medida de segurança em unidade federal. No entanto, sucessivos laudos indicam que seu quadro clínico não evoluiu de forma positiva. Mesmo assim, agora discute-se a possibilidade de soltura — um cenário que, para muitos brasileiros, é um escárnio à justiça e à memória de um episódio gravíssimo da história recente.
Especialistas em segurança alertam que a periculosidade de Adélio não pode ser subestimada. Ele confessou o crime, não demonstrou arrependimento e ainda é símbolo de radicalização política e ódio ideológico.
Libertá-lo, ainda que sob regime ambulatorial, seria uma afronta ao bom senso e um risco concreto à ordem pública. Em um país que convive com a impunidade seletiva e decisões judiciais frequentemente questionadas, a possível soltura de Adélio Bispo reforçaria a percepção de que o crime compensa — desde que envolva o lado “certo” do espectro político.
Se a Justiça aceitar a tese de que Adélio pode ser tratado fora da prisão, abre-se um precedente tenebroso: qualquer atentado político poderá ser relativizado sob o manto da insanidade.
Mais do que uma questão jurídica, trata-se de uma questão moral e civilizatória. O Brasil precisa decidir se continuará premiando criminosos e punindo as vítimas, ou se recuperará o respeito à lei, à autoridade e à segurança nacional.
A possível libertação de Adélio Bispo não é um ato humanitário, é uma provocação à sociedade.
Um país que se pretende democrático não pode tratar com complacência quem tentou assassinar um candidato à Presidência da República em plena luz do dia.
Enquanto criminosos perigosos recebem “tratamento ambulatorial”, milhões de brasileiros honestos enfrentam um sistema judiciário lento, seletivo e desigual.
Se o Estado brasileiro permitir essa libertação, não será apenas Adélio quem estará livre — será a certeza de que a Justiça brasileira perdeu de vez a noção de Justiça.