GRAVE: Quando a defesa do consumidor vira espetáculo e o direito vira palco para ambição pessoal

Por Fábio Roberto de Souza

    21/10/2025 06h01 - Atualizado há 3 semanas

    Nos últimos anos, proliferaram nas redes sociais e na mídia casos de indivíduos que, sob o pretexto de defender o consumidor, transformaram a causa em espetáculo.

    A bandeira legítima da cidadania, da transparência e da responsabilidade empresarial foi sequestrada por personagens que buscam holofotes, não justiça.

    Esses falsos defensores — alguns autoproclamados jornalistas, outros travestidos de advogados militantes — distorcem a essência da legislação consumerista e a transformam em arma de constrangimento.

    O que deveria ser mediação, diálogo e orientação jurídica, converte-se em humilhação pública, exposição vexatória e ataques sucessivos a fornecedores, muitas vezes antes de qualquer apuração ou contraditório.

    A tática é simples: usar o discurso da indignação como escudo e o sensacionalismo como motor. Filmagens invasivas, denúncias rasas e manchetes escandalosas passam a substituir investigações sérias e análises técnicas. O resultado é um circo midiático onde o “vilão” já nasce condenado e o “defensor” sai ovacionado — mesmo que tenha pisoteado princípios éticos básicos.

    A farsa da “defesa popular”

    A postura desses indivíduos enfraquece o sistema de proteção ao consumidor, não o fortalece.

    Ao agir com teatralidade e agressividade, eles desmoralizam o trabalho dos verdadeiros profissionais da área — servidores de Procons, advogados e mediadores que atuam dentro da lei, com técnica e serenidade.

    Na ânsia de visibilidade, a causa se perde: o consumidor vira ferramenta, e o fornecedor, inimigo público.
    Ambos saem prejudicados, enquanto os pseudo-defensores ganham o que mais buscam — fama, curtidas e capital político.

    Política travestida de causa social

    Não é de hoje que a pauta consumerista é usada como trampolim eleitoral.

    Alguns desses personagens constroem carreiras inteiras em cima do discurso da indignação, repetindo o mesmo enredo:

    - se autopromovem como “paladinos da justiça”,

    - atacam empresários em vídeos ou eventos públicos,

    - depois migram para a política, apresentando-se como “defensores do povo”.

    Décadas se passam, e o padrão se repete — a causa coletiva é substituída pela autopromoção pessoal.

    O que começou como ativismo genuíno se converte em projeto de poder, mantendo o país preso a figuras que exploram a revolta popular, mas pouco ou nada contribuem para o aperfeiçoamento das relações de consumo.

    O preço da demagogia

    A espetacularização da defesa do consumidor tem consequências graves.

    Ela:

    - Desacredita órgãos sérios de fiscalização;

    - Prejudica empresas e trabalhadores injustamente expostos;

    - Transforma a Justiça em palco para disputas pessoais.

    Enquanto isso, os verdadeiros problemas do consumidor continuam sem solução: cobranças indevidas, precarização de serviços, demora no atendimento e descumprimento de prazos.

    A figura do “justiceiro de internet” — que grita mais do que argumenta — é um sintoma de um tempo em que a aparência vale mais que o conteúdo, e a histeria vale mais que o diálogo.

    A necessidade de resgatar a seriedade

    Defender o consumidor é uma missão nobre, que exige conhecimento técnico, responsabilidade e respeito.

    Transformá-la em espetáculo, em revanche pessoal ou em vitrine eleitoral é trair a própria essência da cidadania.

    O país precisa menos de personagens inflamados e mais de profissionais éticos, que compreendam que a verdadeira defesa do consumidor se faz com justiça, não com likes; com equilíbrio, não com linchamentos; com boa-fé, não com ambição política.


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