Nos últimos anos, proliferaram nas redes sociais e na mídia casos de indivíduos que, sob o pretexto de defender o consumidor, transformaram a causa em espetáculo.
A bandeira legítima da cidadania, da transparência e da responsabilidade empresarial foi sequestrada por personagens que buscam holofotes, não justiça.
Esses falsos defensores — alguns autoproclamados jornalistas, outros travestidos de advogados militantes — distorcem a essência da legislação consumerista e a transformam em arma de constrangimento.
O que deveria ser mediação, diálogo e orientação jurídica, converte-se em humilhação pública, exposição vexatória e ataques sucessivos a fornecedores, muitas vezes antes de qualquer apuração ou contraditório.
A tática é simples: usar o discurso da indignação como escudo e o sensacionalismo como motor. Filmagens invasivas, denúncias rasas e manchetes escandalosas passam a substituir investigações sérias e análises técnicas. O resultado é um circo midiático onde o “vilão” já nasce condenado e o “defensor” sai ovacionado — mesmo que tenha pisoteado princípios éticos básicos.
A farsa da “defesa popular”
A postura desses indivíduos enfraquece o sistema de proteção ao consumidor, não o fortalece.
Ao agir com teatralidade e agressividade, eles desmoralizam o trabalho dos verdadeiros profissionais da área — servidores de Procons, advogados e mediadores que atuam dentro da lei, com técnica e serenidade.
Na ânsia de visibilidade, a causa se perde: o consumidor vira ferramenta, e o fornecedor, inimigo público.
Ambos saem prejudicados, enquanto os pseudo-defensores ganham o que mais buscam — fama, curtidas e capital político.
Política travestida de causa social
Não é de hoje que a pauta consumerista é usada como trampolim eleitoral.
Alguns desses personagens constroem carreiras inteiras em cima do discurso da indignação, repetindo o mesmo enredo:
- se autopromovem como “paladinos da justiça”,
- atacam empresários em vídeos ou eventos públicos,
- depois migram para a política, apresentando-se como “defensores do povo”.
Décadas se passam, e o padrão se repete — a causa coletiva é substituída pela autopromoção pessoal.
O que começou como ativismo genuíno se converte em projeto de poder, mantendo o país preso a figuras que exploram a revolta popular, mas pouco ou nada contribuem para o aperfeiçoamento das relações de consumo.
O preço da demagogia
A espetacularização da defesa do consumidor tem consequências graves.
Ela:
- Desacredita órgãos sérios de fiscalização;
- Prejudica empresas e trabalhadores injustamente expostos;
- Transforma a Justiça em palco para disputas pessoais.
Enquanto isso, os verdadeiros problemas do consumidor continuam sem solução: cobranças indevidas, precarização de serviços, demora no atendimento e descumprimento de prazos.
A figura do “justiceiro de internet” — que grita mais do que argumenta — é um sintoma de um tempo em que a aparência vale mais que o conteúdo, e a histeria vale mais que o diálogo.
A necessidade de resgatar a seriedade
Defender o consumidor é uma missão nobre, que exige conhecimento técnico, responsabilidade e respeito.
Transformá-la em espetáculo, em revanche pessoal ou em vitrine eleitoral é trair a própria essência da cidadania.
O país precisa menos de personagens inflamados e mais de profissionais éticos, que compreendam que a verdadeira defesa do consumidor se faz com justiça, não com likes; com equilíbrio, não com linchamentos; com boa-fé, não com ambição política.