A direita brasileira e sua incapacidade de aprender, mesmo que seja com a esquerda

Por Fábio Roberto de Souza

    24/10/2025 22h00 - Atualizado há 3 semanas

    O processo pré-eleitoral que se desenha no Brasil tem revelado, mais uma vez, uma profunda fragilidade no campo da direita conservadora: a divisão.

    Enquanto a esquerda, historicamente, mantém a habilidade de “lavar roupa suja em casa”, resolvendo suas divergências internamente para preservar um projeto de poder, a direita parece incapaz de agir com a mesma maturidade estratégica.

    O espólio bolsonarista e os projetos pessoais

    Desde o início do processo de tentativa de enfraquecimento político de Jair Bolsonaro, uma corrida silenciosa — e ao mesmo tempo ruidosa — tomou conta das lideranças conservadoras. Deputados, ex-ministros e governadores tentam, cada qual à sua maneira, herdar o espólio político deixado pelo ex-presidente. O problema é que, em vez de somar forças, o que se vê é um desmanche: disputas públicas por protagonismo, ataques mútuos e discursos contraditórios, enquanto o eleitorado de direita assiste confuso a um espetáculo de vaidades.

    Essa fragmentação tem sido o maior presente que a direita oferece à esquerda. Quando cada liderança busca construir seu “projeto pessoal”, esquecendo que política é essencialmente construção coletiva, a consequência é a mesma de sempre: dispersão de votos, desmobilização e desconfiança.

    A esquerda e sua disciplina estratégica

    É inegável que o campo progressista domina, há décadas, a arte da unidade. Mesmo com divergências internas — e são muitas — o Partido dos Trabalhadores, o PSOL e seus aliados sabem preservar o discurso comum quando o poder está em jogo. Divergem nos bastidores, se atacam nos corredores, mas saem de mãos dadas para as câmeras. Essa estratégia tem garantido sobrevida e retomada ao projeto de esquerda no Brasil, mesmo após escândalos, prisões e crises econômicas.

    Enquanto isso, figuras da direita trocam farpas em redes sociais, criam partidos sem identidade sólida e disputam quem será o “novo Bolsonaro”, como se o conservadorismo brasileiro dependesse de um messias para sobreviver.

    O reflexo disso nas urnas

    A história recente mostra que a direita vence quando fala com uma só voz e perde quando se fragmenta. Foi assim em 2018, quando o discurso unificado contra o PT impulsionou Bolsonaro. Mas foi também o fracionamento e a ausência de liderança estratégica que fragilizaram o movimento nos anos seguintes.

    Se a direita quiser voltar a ser competitiva, precisará aprender com a esquerda o que esta faz de melhor: esconder suas brigas internas e agir como um bloco. Caso contrário, continuará sendo apenas um amontoado de boas intenções que se anulam mutuamente — e que, mais uma vez, entregarão o poder a quem sabe jogar em grupo.


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