A divulgação das imagens pela CNN em abril também jogou luz em outro ponto sobre o dia 8 de janeiro em que o governo se recusa a tocar. Um dos pedidos rejeitados na CPMI nesta semana trata do “Plano Escudo” para a defesa do Palácio do Planalto. Os vídeos mostram que a tropa recuou mais de uma vez, permitindo o acesso dos vândalos ao estacionamento do prédio. A porta de entrada estava destrancada. Os oficiais do GSI circularam à paisana entre os manifestantes — um deles ofereceu água aos manifestantes. Que general assiste inerte à sua fortaleza sendo atacada?
Como já foi provado que vários órgãos do governo receberam alertas de risco de ataque, inclusive o GSI e o gabinete de Flávio Dino, o governo obrigatoriamente deveria ter um Plano Escudo. O GSI precisa estar preparado para situações de emergência que, inclusive, envolvem a retirada de autoridades do local. Há comunicação prévia com as forças de segurança do Distrito Federal, com a Polícia Federal e Rodoviária e com as Forças Armadas. Uma das cenas não explicadas até agora foi o bate-boca entre os ministros Flávio Dino e José Múcio Monteiro (Defesa) na noite do dia 8 de janeiro, dentro do Palácio do Planalto.
Nos bastidores, os integrantes da oposição afirmam que a omissão ou conivência com a depredação em Brasília é a linha que desestabiliza o governo — muito mais do que a descoberta de eventuais infiltrados. Isso explica a blindagem ocorrida na terça-feira. O cálculo político é que, mesmo se um dos presos confessar a ação como infiltrado, isso não vai se converter em benefício a ele no julgamento do Supremo — não é como um acordo de delação, por exemplo. Ou seja, é um caminho mais difícil para a CPMI.
Já a comprovação de que o governo “deixou acontecer” o que se viu naquela tarde trágica para colocar em pé a tese de golpe “bolsonarista” pode sustentar um pedido de impeachment de Lula. A CPMI deixou claro um fato inequívoco: há um lado oculto no 8 de janeiro que o governo não quer mostrar.