Os amigos da interdição

Por Guilherme Fiuzza

    04/09/2024 15h28 - Atualizado em 04/09/2024 às 15h28
    Todo dia aquele sujeito para naquela esquina e fica falando coisas que eu não gosto.

    _ Deixa ele falando sozinho.

    _ Mas ele não fala sozinho. Quem passa ali na hora escuta tudo.

    _ Bom, então o negócio é observar o que ele fala. Se ofender alguém ou infringir alguma lei, processa.


    _ Não quero que ele tenha a chance de ofender. Porque ofendeu, tá ofendido, né?

    _ Isso é verdade. Mas como você vai saber previamente se ele vai ofender?

    _ Conheço o tipo. Tenho certeza que vai ofender, vai difamar, vai mentir, vai incitar, vai caluniar.

    _ Sujeito ruim, né?


    _ Muito ruim. E influencia os outros com a ruindade dele. 

    _ A esquina deve ser muito prejudicada por um comportamento desses.

    _ A esquina, a rua e por extensão o bairro inteiro.

    _ Dependendo do nível do transtorno, pode afetar a cidade.

    _ O país.

    _ Que situação desagradável.

    _ Muito. É preciso evitar que esse sujeito fale naquela esquina.

    _ O jeito é proibir a passagem dele por lá.

    _ Já tentei.

    _ E aí?

    _ A administração local não aceitou decretar a proibição.

    _ Por quê?

    _ Disseram que o sujeito tinha o direito de ir e vir.

    _ Que absurdo. 

    _ Total. O direito à livre circulação é usado para acobertar crimes.

    _ Exatamente. A lei não pode ser usada em favor do delinquente.

    _ De jeito nenhum. Por isso resolvi tomar outras providências. 

    _ Vai mandar policiar a esquina?

    _ Não. O delinquente poderia ir pra outra esquina.

    _ Vai mandar fiscalizar a rua toda?

    _ Não. Esses criminosos sempre acham um jeito de driblar a fiscalização.

    _ Que coisa difícil é defender a ordem. O que você vai fazer?

    _ Mandei interditar a rua.

    _ Não passa ninguém?

    _ Ninguém. Tolerância zero com o crime.

    _ Perfeito! Agora esse cara não vai mais poder ficar na esquina contaminando o ambiente e prejudicando a sociedade.

    _ Exatamente. Acabou a moleza. Chega de compactuar com as condutas antissociais.

    _ Parabéns pela firmeza!

    _ Obrigado.

    _ Ih, acabo de lembrar que o meu cardiologista é nessa rua. Tenho consulta com ele amanhã. Pode pedir ao seu pessoal pra me deixar passar? Sou só eu.

    _ Não.

    _ Mas… Eu sou cardíaco…

    _ Se vira.


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