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22/09/2024 às 12h09min - Atualizada em 22/09/2024 às 12h09min

Moraes, o Ministro do Amor

Por Paulo Briguet

“O Ministério da Paz ocupa-se da guerra, o Ministério da Verdade, das mentiras, o Ministério do Amor, da tortura, e o Ministério da Fartura, da fome.”

(George Orwell, “1984”)

Pelas ruas de São Paulo, a caminho da casa de minha querida amiga Tereza Mainardi, enquanto o motorista do Uber, eleitor de Pablo Marçal, dirige pelo antigo Elevado Costa e Silva, hoje renomeado Elevado João Goulart, mas ontem e hoje chamado pelos paulistanos de Minhocão, observo um imenso grafite em um edifício de treze andares, com a figura do pedagogo Paulo Freire. Sua barba de falso profeta, e um substantivo que o patrono da educação brasileira transformou em verbo: esperançar. 

Freire adorava essas cafonices verbais, e foi com elas que ele conseguiu transformar as escolas brasileiras em fábricas de analfabetos. Se Orwell tivesse conhecido o Brasil, acrescentaria ao governo socialista do Grande Irmão mais uma pasta: o Ministério da Educação, responsável pela burrice.

"Morar no Brasil é ter diversas vezes por dia o sentimento de estar vivendo dentro de uma distopia, como personagem de um daqueles livros que previram o mundo atual"

Ontem mesmo, os "iluministros" discutiam se a palavra mãe deve ou não ser usada em documentos do Sistema Único de Saúde. Ora, isso parece extraído de uma página de “Admirável Mundo Novo”, onde não existiam mais famílias, todos eram filhos de chocadeira e as palavras mãe e pai eram consideradas graves ofensas, tendo sido apagadas dos dicionários. O Brasil, como a sociedade descrita por Aldous Huxley, é o país onde você não tem sequer o direito de ser chamado “filho da mãe”.

Pergunto ao eleitor do Marçal onde está a Cracolândia e a resposta é muito simples: agora a Cracolândia está por toda parte. Zumbis humanos se espalham pelo centro de São Paulo, numa espécie de distribuição socialista da miséria e do sofrimento humano. 

E o PCC, onde está? Também foi socializado: acha-se no transporte, no lixo, nos postos de gasolina, nas comunidades, nos gabinetes, nas cadeiras, em todos os quadrantes da metrópole. Então eu penso que estamos em outra distopia: “Mad Max”.

No entanto, a prioridade do governante-mor do país parece ser bem outra. Sua obsessão central agora é identificar e punir severamente, por meio de sua polícia do pensamento, os perigosos indivíduos que ousaram publicar opiniões numa rede social. 

No mesmo dia em que o Instagram censurou o Rosário do Frei Gilson, Alexandre de Moraes convocou a PF para perseguir os “casos extremados” de liberdade de pensamento na internet.

Se estivéssemos em “1984”, Moraes não ocuparia um cargo no STF, mas sim no Ministério do Amor. Tudo que ele faz — podem estar certos disso os meus sete leitores — é movido por esse sublime sentimento. É por amor que ele censura, é por amor que ele confisca os bens dos investigados, é por amor que ele persegue as famílias dos réus, é por amor que ele coloca o aparato estatal para atormentar a vida de cidadãos comuns, é por amor que ele encarcerou Filipe Martins por seis meses, é por amor que ele mantém na prisão senhoras idosas, doentes graves, pais de família e manifestantes armados com terço e Bíblia.

Distraído por essas reflexões "distópicas", nem percebo que a corrida do Uber chegou ao seu destino: a Consolação, onde mora minha amiga Tereza. Despeço-me do eleitor do Marçal, desejo que ele fique com Deus (afinal, eu não sou a Marilena Chaui) e, dedicando um último pensamento a Moraes, vejo que ele tenta ser protagonista daquela que é a primeira das distopias: “O Senhor do Mundo”.


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