A tragédia com o balão que matou oito pessoas no sábado (21), em Praia Grande, no Extremo-Sul de Santa Catarina, teve um novo desdobramento nesta quinta-feira (26), com a reconstituição do acidente pela Polícia Civil (PCSC) e Polícia Científica.
Durante a ação, os agentes voltaram ao local onde o balão caiu para buscar os últimos vestígios. Um dos principais achados foi um maçarico, usado para acender a chama piloto — peça considerada essencial para entender o que pode ter dado errado no voo. A reprodução não foi técnica, mas sim uma demonstração feita pelo próprio piloto, que apresentou sua versão sobre o ocorrido.
A investigação já ouviu 20 pessoas, incluindo os 13 sobreviventes, piloto, gestor da empresa fabricante do balão e funcionários da agência responsável pelos passeios. Os laudos cadavéricos e o relatório psicológico das vítimas também foram concluídos.
Os destroços do balão foram levados até a sede da Prefeitura de Praia Grande, onde a perícia foi retomada para elaboração dos últimos laudos técnicos.
Enquanto isso, os voos turísticos de balão continuam suspensos na cidade. A decisão foi tomada após reunião entre representantes da prefeitura, da Associação de Voos de Instrução de Balão de Ar Quente (Avibaq) e das empresas que oferecem os passeios. A suspensão segue, pelo menos, até a próxima segunda-feira (30).
‘Foi desesperador’: turista relata momentos antes de queda de balão que matou 8 em SC
O que era para ser um passeio turístico se transformou em uma das maiores tragédias envolvendo balonismo no Brasil. A queda de um balão em Praia Grande, no Extremo-Sul de Santa Catarina, deixou oito mortos no último sábado (21). Geisi Canhola, de 32 anos, estava no local acompanhada da namorada, de 28 anos, Rosane Denegredo. Em relato ao SCC10, ela contou como tudo aconteceu e como a decisão do piloto salvou vidas.
Segundo Geisi, no momento do acidente, apenas dois balões ainda aguardavam para decolar: o dela e o balão que viria a cair. Os demais já haviam alçado voo sem problemas. “A gente já estava dentro do cesto quando o vento começou a ficar muito forte, muito mesmo. O balão chegou a enroscar num galho de árvore. Foi um momento de tensão”, lembra.
Diante do vento intenso, o piloto da empresa responsável pelo balão de Geisi optou por abortar a decolagem. “Por segurança, o piloto decidiu tombar o balão e pediu para que todos saíssem. Foi a decisão certa”, afirma.
Enquanto aguardavam no solo, Geisi e outros turistas observaram o outro balão tentar decolar. “Ele até conseguiu subir, mas estava mais baixo do que os outros. O piloto do nosso balão comentou que o outro estava soltando muito gás e que aquilo era perigoso”, relata.
Na sequência, veio o susto. “O balão passou por nós, a uns 500 metros, e começou a descer. A gente achou que tinha pousado, que estava tudo bem. Mas então veio uma rajada de vento muito forte, e o balão subiu de novo.” Foi nesse momento que começou o desespero. Segundo ela, uma pessoa se jogou do balão quando ele ainda estava a poucos metros do chão. “Logo depois, vimos outra pessoa pendurada por uma corda do lado de fora. Ela também se jogou. Foi uma cena muito difícil de ver, muito triste”, conta.
A sequência de quedas continuou. “Um por um começou a pular. O balão foi perdendo altitude até que o cesto se desprendeu e aconteceu a queda”, lembra Geisi, que ficou em estado de choque e não conseguiu mais seguir com o passeio. “Nosso voo era o último. Por causa do vento, não aconteceu. A sorte foi o nosso piloto ter percebido o perigo e decidido não voar.”
Geisi destacou ainda que as condições climáticas estavam estáveis no início da manhã. “Estava tudo tranquilo, todos os voos anteriores aconteceram normalmente. Foi só depois das 8h que o vento virou e tudo mudou.”
A decisão de abortar o voo provavelmente salvou a vida de Geisi, da namorada e de outros turistas. Já o balão que decolou, infelizmente, teve outro destino. A tragédia está sendo investigada pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), que informou que o balonismo é uma atividade desportiva de alto risco e que a responsabilidade pela segurança é do operador.
A empresa responsável pelo balão acidentado, segundo a Anac, possuía autorização para operar.
A reportagem do SCC10 procurou a empresa Sobrevoar para saber se, no momento da decolagem, as condições de vento já eram consideradas intensas. No entanto, até o fechamento desta matéria, não houve retorno. O espaço segue aberto.