“O caso todo do tenente-coronel Cid é uma fotografia em alta resolução do Brasil de hoje.
Em nenhum país com um sistema judicial minimamente sério seria permitido fazer o que fizeram com ele — foi tudo ilegal até agora, como é ilegal o tratamento dado a mais de mil brasileiros, quase todos anônimos, que estão na lista negra de inimigos políticos do STF.
É essa, justamente, a ação mais destrutiva do regime em vigor neste momento no país — o sistema de Justiça foi eliminado e substituído por um Comitê Central que não foi eleito por ninguém, não tem de responder por nada do que faz e se sustenta na força armada da polícia e do exército para se colocar acima das leis.
Não há prestação de Justiça em nenhuma questão que tenha a ver com o exercício dos direitos políticos dos cidadãos. Não há a necessidade de provas judiciais coerentes; prova é aquilo que o Comitê decide que é prova. Não há mais lei, também, em relação a certos crimes — o primeiro deles é a corrupção, quando envolve qualquer coisa ligada ao presidente Lula.
Há, em vez de Poder Judiciário, uma Junta de Governo que manda no Brasil como se estivesse em vigor o Ato 5 do falecido regime militar, só que mais perigoso e com intenções piores.
O Ato 5 proibia a Justiça de interferir em quaisquer decisões do governo. O ato institucional em vigor no momento proíbe a Deus e todo mundo de interferir em quaisquer decisões do STF. Não é apenas para reprimir quem faz oposição ao governo, como no tempo dos militares. É para reprimir a prática da liberdade.”