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23/11/2023 às 18h31min - Atualizada em 23/11/2023 às 18h31min

DESUMANIDADE SUPREMA: Presos do 8/1 revelam o que Cleriston enfrentou na prisão: “era desumano”

“A saúde dele era a mais frágil, e mesmo assim ele se preocupava com os outros.” Essa é a descrição que o psicólogo João Lucas Giffoni, preso dia 8 de janeiro com Cleriston Pereira da Cunha, faz em referência ao colega de carceragem. De acordo com ele, “Clezão” — como era conhecido — estava sempre animado, “levantava o astral dos patriotas cabisbaixos e depressivos, e pedia que todos continuassem orando pelo Brasil, sem desanimar”.
 
Além disso, “ele pedia à família para trazer biscoitos para os presos que estavam passando fome devido à comida insuficiente, e roupas também”, recorda Giffoni, lembrando ainda da promessa que Cleriston fez na Papuda. “Ele falou que quando saísse de lá, ia matar um boi e convidar todos os patriotas. Nunca pensava só nele”.
 
No entanto, ainda que a Procuradoria-Geral da República (PGR) tivesse emitido parecer recomendando sua liberdade provisória em 1º de setembro devido aos problemas de saúde que enfrentava, o ministro Alexandre de Moraes, responsável pelo processo no Supremo Tribunal Federal (STF), não analisou o pedido. Clezão veio a óbito por volta das 10h da manhã da última segunda-feira (20), aos 46 anos, deixando esposa e duas filhas.
 
Imagem de Cleriston Pereira da Cunha com sua esposa e as duas filhas antes da prisão. Foto: Arquivo pessoal
 
“A voz dele me incentivando tem ecoado na minha mente esses dias, e tem sido muito difícil lidar com a notícia”, relata o paranaense David Michel, de 35 anos. Preso por também estar presente nas manifestações de 8 de janeiro, ele permaneceu 7 meses no Complexo Penitenciário da Papuda, onde se preocupava com a saúde do colega.
 
“Minha cela era ao lado da dele, e víamos o Cleriston passar mal uma ou duas vezes por semana, principalmente durante a madrugada”, recorda, afirmando que, “na maioria das vezes, não havia atendimento, e a gente só orava por ele”.
 
Ainda de acordo com David, as crises começavam com vômito, e muitas vezes eram seguidas por convulsões e desmaio. “E em uma das vezes o quadro foi tão intenso que achamos que ele tinha morrido devido ao infarto”, recorda o amigo, citando que Clezão ficou sem forças para caminhar após essa crise e passou 15 dias usando cadeira de rodas.
 
“Tudo em meio à situação desumana e desesperadora de estar na prisão, não realizar os exames que precisava, e ainda sendo humilhado sem ter cometido crime nenhum”, continuou David, pontuando que o local é insalubre, e que a equipe não oferecia os medicamentos que o colega precisava e nem alimentação adequada.
 
“A alimentação, na verdade, é um lixo, uma lavagem, algo que nem bicho come”, disse em entrevista à Gazeta do Povo. “A gente só comia para sobreviver mesmo, e o Clezão aguentou isso durante 10 meses. Ele foi muito resistente... Meu Deus!”, continuou, emocionado.
 
A morte de Cleriston “é resultado de omissão e negligência”, diz colega

Para Gilberto Ackermann, empresário catarinense de 49 anos que também foi preso por participar nos atos de 8 de janeiro e que conheceu Cleriston na prisão, a morte do colega “é resultado da omissão e da negligência com os patriotas na Papuda”.
 
Inclusive, segundo ele, o óbito só não ocorreu antes porque um médico idoso, que continua encarcerado, ajudava o Clezão e outros presos doentes. “Esse doutor faz o possível para prestar atendimento a quem passa mal, e foi quem ajudou o Clezão no dia 20 até a chegada da emergência”, conta, ao citar que o viu solicitar à penitenciária itens básicos para aferir a pressão dos colegas e ajudá-los, mas “falavam para ele se virar”.
 
De acordo com Gilberto, esse era o tratamento que os detentos recebiam e, até nas crises mais intensas que Clezão enfrentou, demorou muito até alguém ouvir o pedido de socorro. “Lembro que em uma das madrugadas que ele quase morreu, assobiei desesperado por quase 20 minutos, enquanto colegas gritavam e batiam nas portas tentando chamar os policiais”, relata. “Quando chegaram, entraram brigando e perguntando se queríamos gás de pimenta por estarmos fazendo baderna”.
 
E o descaso, segundo ele, era o mesmo com todos os presos de 8 de janeiro. “Era comum desmaiarmos devido à má alimentação e baixa glicemia, e não recebermos atendimento”, afirma, ao alertar que há outros presos doentes e idosos que seguem na Papuda e precisam da liberdade provisória urgentemente. “É uma tragédia anunciada”, aponta.

 
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