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02/07/2024 às 07h49min - Atualizada em 02/07/2024 às 07h49min

Conheça a história inspiradora do vereador Gabrielzinho, que morreu nesta segunda-feira (1º) em decorrência dos efeitos de uma pneumonia

Por Hillary Marcos, especial para o ND+

Vereador manezinho

Gabriel Meurer nasceu no dia 14 de maio de 1985, em Florianópolis. Diagnosticado com hipocondroplasia, doença que atinge o crescimento da cartilagem e prejudica o desenvolvimento do corpo, ele sempre chamou a atenção por onde passava, principalmente por conta da baixa estatura.

Segundo o mesmo, o tamanho nunca foi um impedimento e, graças ao apoio da família, sempre teve todas as oportunidades necessárias para ir atrás de seus objetivos.

“Meus pais sempre me falaram: ‘cara, a tua única diferença é o tamanho menor mas de resto te vira, vai trabalhar e estudar’ e graças a Deus a gente sempre teve uma condição de vida boa”, contou Gabrielzinho, como era conhecido por familiares, amigos e no meio política. A entrevista aconteceu em agosto de 2022.

Carreira

Em 2003, quando ainda estava na graduação de Direito, começou como estagiário no Procon de Santa Catarina onde deu início à carreira focada na defesa do direito do consumidor.

“Eu trabalhava de manhã saia de casa às seis da manhã, a tarde fazia estágio em outro local, a noite ia pra faculdade, chegava em casa quase meia noite. Não foi fácil”, relatou Gabriel.

Dali para frente, trilhou um caminho promissor e, seis anos depois, assumiu o cargo de assessor jurídico no órgão. Já em 2014, partiu para um desafio maior no comando do Procon Municipal de Florianópolis.

Em 2016, se elegeu pelo partido Podemos na cidade natal e em 2020 conquistou a reeleição. Quando perguntado sobre o que o aproximou da política, o vereador contou que sempre foi muito comunicativo e gostava de ajudar as pessoas.

 
“Sempre gostei de atender o público, sem pretensão nenhuma de querer ser político. Até me chamavam de para-raio porque tudo quanto era bucha vinha pra minha mesa”, relatou Gabriel entre risos.

Sempre foi recebido com muito apreço pelos funcionários do Procon Municipal. Durante suas visitas ao órgão era perceptível o carinho através de um café ou atenção especial por parte de todos.

“Gabrielzinho é uma pessoa acessível, carismática e leve, criamos uma relação de amizade e confiança muito forte. Eu me identifico em muitos pontos com os valores que ele carrega. A história dele é inspiradora, uma pessoa com deficiência que correu atrás dos seus sonhos e não deixou que as limitações físicas impedissem seus sonhos”, afirmou Andrea Vergani, amiga e colega do vereador. A entrevista também ocorreu em 2022.

Segundo ele, foi esse incentivo por parte de colegas e pessoas próximas que o motivou a ingressar na carreira política: “o pessoal sempre falava ‘pô, Gabriel, vem pra candidato, boto fé’”.

Com pouca preparação, desacreditado em relação à política brasileira e com recursos financeiros escassos, Gabrielzinho também precisou se aconselhar com a família para se convencer a ingressar na nova empreitada.

“Querendo ou não eu tinha uma boa imagem porque só ajudava a resolver problemas. O político, muitas vezes, as pessoas já têm o preconceito que todos entram para roubar, fiquei meio assim. Conversei com meu pai, que sempre gostou de política e liderança comunitária”.

Contando com o apoio de família e amigos, iniciou a campanha com poucos recursos e a vontade de fazer dar certo.

Entre as dificuldades do ingresso na política, o vereador cita o fato de que era conhecido por muitas pessoas, mas era preciso fazer com que todos soubessem sobre a sua candidatura.

 
“Se as pessoas soubessem que eu era candidato a probabilidade disso converter em voto era muito grande, e é isso que a gente fazia e continua fazendo indo nas comunidades. O meu QG era um balcãozinho ao lado do salão de beleza da minha tia para pegar a internet dela, o carro que a gente usava na campanha era da minha avó”, relembrou Gabriel, com empolgação.

Já é de conhecimento geral que a política não é um ambiente amistoso, entre conflitos de interesse e divergências ideológicas, pode ser difícil lidar com as figuras que compõem o meio.

Logo no início do primeiro mandato, Gabrielzinho já sentiu o peso da quebra da barreira entre a vida privada e pública, passando a ser uma figura com responsabilidades e cobrado pelos eleitores.

“Às vezes você está num ambiente particular e as pessoas vão te cobrar como político, no começo foi meio difícil de entender isso”, afirmou Gabriel, que no começo teve dificuldades em lidar com opiniões vindas das redes sociais.

“Eu batia boca, aí já discutia com todo mundo também, mas isso aí tu vai amadurecendo. É muito intenso”. Apesar disso, o vereador se orgulha e esbanja um retorno positivo do eleitorado.
 
“Graças a Deus quando as pessoas me encontram é para falar coisas boas e não para ficar me xingando. Mas imagina se tivesse uma imagem ruim e aí estivesse com a família e alguém xingando”.

Assim que assumiu como vereador, em 2016, Gabrielzinho teve que lidar com um pacote de 40 novos projetos durante a gestão do então prefeito, Gean Loureiro.

“A gente sofreu bastante pressão na Câmara, 37 dias de greve e aquele rolo todo, muitas ações impopulares, muitos projetos impopulares, mas que eram necessários no momento. E a gente começou a se debruçar em todos os projetos e a realmente estudar porque sempre tem aquela coisa de que o vereador que é da base diz amém pra tudo e o que é da oposição diz não pra tudo”, o vereador ainda explicou que não faz distinção entre “lados” quando se trata de propostas vindas da oposição.

Segundo Gabrielzinho, na época, ele ficou entre os vereadores que mais propuseram alterações, sugestões e emendas nos projetos, “então ali foi o marco, onde viram que a gente realmente não estava ali só pra carimbar os projetos”.

Ao longo da conversa, uma questão que o vereador fez questão de ressaltar algumas vezes foi a transparência e compromisso com os cidadãos que procuram por sua ajuda.

“O pessoal vem me procurar e não tem como saber se votou em mim ou se vai votar em mim, se tu é uma figura pública tu tem que dar resposta pra sociedade. E tem muito político que não entende isso e só quer aparecer na época de eleição”.

Direita ou esquerda? Sem posição

Além disso, o político afirma que não tomava nenhuma posição radical para esquerda ou direita, considerando tal atitude ultrapassada, se orgulhando por dialogar com políticos de oposição e com ideologias que contrastam com a sua.

“Graças a Deus eu tenho bom trânsito para direita e para esquerda, tenho facilidade de conversar com todo mundo”.

Ele afirmava que acreditava na necessidade de renovar o cenário político estadual com novos rostos e mais representatividade, principalmente em relação às bandeiras que defendia que são o direito do consumidor e da pessoa com deficiência.

“As pessoas que temos lá (no estadual) estão lá há 50 anos e ninguém nunca faz nada. Só aparecem em época eleitoral abraçando crianças e comendo coxinha. Aquela política não dá mais!”, afirmou convicto o candidato.

No final da conversa, já mais descontraído, Gabriel contou mais sobre sua vida pessoal e se definia um manezinho raiz e havaiano convicto. “Eu gosto de estar em casa de boa com a família, vendo TV e FIFA com os amigos, fazendo uma carne, acho que gosto de estar rodeado”.

Saúde

Em 10 de junho de 2024, o vereador foi hospitalizado para tratar uma pneumonia que evoluiu para um quadro grave que resultou em internação e intubação na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do Hospital Unimed Grande Florianópolis.

Nas últimas semanas, Gabriel Meurer teve uma breve melhora, sendo retirada a máquina de hemodiálise e os aparelhos de respiração mecânica. Porém, o parlamentar contraiu uma infecção bacteriana no último sábado (28), levando-o a um coma induzido e posterior morte por choque séptico.

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