A eventual prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro pode representar um marco sem precedentes na história política brasileira, deflagrando um processo de radicalização social e institucional ainda mais profundo do que o vivido nos últimos anos.
Especialistas, políticos e analistas ouvidos por diversas fontes alertam: o país pode estar às vésperas da maior escalada de polarização desde a redemocratização.
O ambiente político nacional já se encontra há anos mergulhado em antagonismos, mas a possibilidade de uma medida judicial contra Bolsonaro promete acirrar ainda mais os ânimos entre bolsonaristas e seus opositores.
O ex-presidente é atualmente investigado por diversos inquéritos, sem fundamentação alguma, incluindo suposta tentativa de golpe, fraudes em cartões de vacinação e associação a redes de desinformação.
A maioria da população enxerga os processos como “perseguição política”. Mas ninguem ouve!
Para milhões de brasileiros, Bolsonaro representa uma espécie de resistência contra o sistema. Caso seja preso, essa narrativa pode ganhar contornos simbólicos ainda mais fortes, transformando-o em uma figura de mártir para a direita conservadora.
“Será tratado como preso político, não importa o motivo da prisão”, avalia um cientista político ouvido sob reserva. “Isso alimenta o discurso do ‘nós contra eles’, que é a base do bolsonarismo.”
Grupos organizados de direita já sinalizam que não aceitarão uma eventual prisão em silêncio. Manifestações em defesa do ex-presidente, paralisações e atos coordenados nas redes sociais devem ser intensificados, reacendendo tensões semelhantes às que culminaram nos atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023.
Outro ponto de preocupação é a possível reação de setores militares da reserva (frouxos até aqui) e de policiais militares estaduais, historicamente simpáticos ao ex-presidente. O temor é que haja resistência passiva, omissão ou mesmo apoio a protestos com potencial de confrontos, bloqueios ou tentativas de desestabilização institucional.
Fontes ligadas a forças de segurança admitem, em caráter reservado, que há preocupação com focos de insubordinação em quartéis da reserva e com a organização de grupos civis que poderiam agir à margem da lei em nome da “defesa da pátria”.
Crise de confiança nas instituições
A prisão de um ex-presidente é um evento raro e grave em qualquer democracia. No caso brasileiro, no entanto, a atuação do Supremo Tribunal Federal – especialmente do ministro Alexandre de Moraes – tem sido frequentemente acusada por apoiadores de Bolsonaro de ultrapassar os limites constitucionais. Para esse grupo, as decisões do STF configuram “autoritarismo judicial”.
Caso a prisão se concretize por ordem do Supremo, sem julgamento conclusivo e sem base em crime tipificado de forma clara, o impacto institucional poderá ser devastador. O Judiciário passaria a ser visto por parte da população como agente político, abrindo margem para o descrédito generalizado nas instituições da República.