A liberdade política no continente americano enfrenta o maior grau de perigo desde a Guerra Fria, segundo uma série de análises publicadas pelo The Wall Street Journal. Diferentemente das décadas de 1970 e 1980, quando golpes militares tomavam o poder de forma abrupta, o risco atual vem de líderes e autoridades que, inspirados no modelo de Hugo Chávez, corroem gradualmente as instituições democráticas enquanto mantêm apoio popular ou respaldo institucional.
O jornal cita exemplos na América Latina, como o presidente de El Salvador, Nayib Bukele, que em 2021 destituiu e substituiu todos os magistrados da mais alta corte constitucional, minando garantias como devido processo legal, liberdade de expressão e direito de reunião. Mais recentemente, sob controle do Congresso, foi aprovada uma reforma que permite reeleição presidencial ilimitada — medida que, segundo a publicação, encerra de fato a democracia salvadorenha.
Mas o alerta do Wall Street Journal se estende também ao Brasil, em um editorial intitulado “A Supreme Court Coup d’État in Brazil” (“Um golpe de Estado do Supremo Tribunal no Brasil”), que critica duramente a atuação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). De acordo com o texto, Moraes estaria “censurando críticos e prendendo opositores sem qualquer freio político”, consolidando uma concentração de poder atípica para o Judiciário.
A publicação destaca a prisão domiciliar imposta ao ex-presidente Jair Bolsonaro por descumprir ordens judiciais que restringiam seu uso das redes sociais, após acusações de incitar ataques ao STF. Também ressalta que o caso provocou forte reação internacional, especialmente dos Estados Unidos.
O governo norte-americano, sob Donald Trump, anunciou tarifa de 50% sobre produtos brasileiros e sanções pessoais contra Alexandre de Moraes, incluindo congelamento de bens e possível revogação de vistos. Segundo o WSJ, trata-se de retaliação direta às ações do ministro contra Bolsonaro, aliado próximo de Trump.
Para o jornal, tanto o caso salvadorenho quanto a atuação do STF no Brasil exemplificam um padrão perigoso que se espalha pelo continente: o uso das próprias instituições democráticas como instrumentos de poder absoluto, suprimindo a oposição e limitando liberdades civis.