A Operação Sem Desconto, que investiga um esquema de fraudes bilionárias contra aposentados e pensionistas do INSS, perdeu ritmo desde que o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, assumiu a relatoria do caso, em 17 de junho. A mudança, atribuída a uma conexão sugerida por um delegado da Polícia Federal entre as fraudes e uma medida provisória do governo Bolsonaro, acabou gerando efeitos práticos de paralisia nas apurações.
A hipótese levantada pelo delegado relaciona o caso a um inquérito já em curso no STF, sob relatoria de Toffoli, que investiga o ex-ministro Sergio Moro e dois aliados por suspeita de extorsão. Inicialmente, o ministro solicitou apenas cópias para avaliar eventual conexão. Dias depois, no entanto, declarou-se relator do caso do INSS, determinando que todas as decisões judiciais passassem por sua análise e “eventual ratificação” — o que, na prática, interrompeu diligências já autorizadas.
Embora não haja suspensão formal, o receio de que medidas como bloqueios de bens ou sequestros de valores sejam invalidadas fez a PF adotar postura de espera. Um exemplo é o bloqueio de bens em Sergipe, autorizado pela Justiça Federal, mas não executado. Especialistas classificam a decisão de Toffoli como “precipitada” e sem fundamentação detalhada.
A burocracia do trâmite no Supremo acrescenta semanas de atraso, enquanto valores desviados seguem sem recuperação. O governo, já arcando com o ressarcimento aos prejudicados, enfrenta o risco de prejuízo fiscal bilionário, já que bens dos investigados continuam fora do alcance da Justiça.
Outra decisão polêmica de Toffoli foi dar papel central ao delegado Rafael Dantas — que não integrava a operação original — para atuar nos inquéritos sobre Moro e o INSS. Dantas, próximo ao ex-diretor-geral da PF no governo Bolsonaro, Paulo Maiurino, ganhou exclusividade no caso, decisão que gerou desconforto interno.
A condução do processo deslocou o foco inicial de “seguir o dinheiro” para uma narrativa que insere as fraudes no contexto político do governo anterior, algo visto como favorável à imagem do presidente Lula. Enquanto isso, a CPMI do INSS, já autorizada, permanece no papel, e há rumores de que as apurações podem alcançar parlamentares do Centrão.
No tabuleiro político e jurídico, a prioridade de recuperar o dinheiro desviado parece ter ficado em segundo plano. Tudo está do avesso: quem deveria acelerar a busca por justiça e ressarcimento agora segura as rédeas, transformando uma operação policial em um jogo de espera com custo bilionário para o país.