Em evento em São Paulo, Alexandre de Moraes voltou a vestir a capa de defensor da “democracia” para justificar a atuação do Judiciário. Reconheceu que existem “erros” nas instituições, mas rapidamente tratou de diluir a culpa, repartindo responsabilidades com o restante do Supremo Tribunal Federal (STF).
Apesar de falar em um necessário mea culpa, o ministro fez questão de dividir com colegas da Corte qualquer peso por excessos cometidos — inclusive nos inquéritos políticos que ele próprio conduz.
“Tivemos uma tentativa de golpe de Estado e as instituições reagiram, souberam atuar dentro do que a Constituição estabeleceu. Nós realmente podemos, com erros e acertos, porque isso faz parte de qualquer instituição composta por seres humanos... Exatamente por isso o Judiciário é um órgão colegiado, para que uns corrijam os equívocos e erros dos outros.”
A fala revela um evidente cinismo: relator de mais de uma dezena de inquéritos usados para perseguir opositores políticos desde 2019, Moraes tenta se apresentar como parte de um “corpo coletivo” que corrige a si mesmo, evitando assumir diretamente a autoria e a responsabilidade por decisões polêmicas e autoritárias.
No mesmo tom, afirmou que é “urgentemente necessário” que todos no meio jurídico façam um mea culpa para garantir “mais segurança jurídica” — ironicamente, um dos pontos mais questionados de sua própria atuação. As declarações ocorreram durante evento do TCE-SP, do qual o governador Tarcísio de Freitas foi convidado, mas não compareceu.
Moraes ainda exaltou a “independência” e a “autonomia” dadas ao Judiciário pela Constituição de 1988, alegando que isso garantiu o fortalecimento das instituições e a efetividade de direitos fundamentais “inimagináveis” antes dessa data. Segundo ele, para avançar, o Judiciário precisa de segurança jurídica, segurança pública e segurança institucional.
“Temos que verificar quais os problemas, quais os defeitos que podem ser corrigidos e quais os desafios que todos nós — Judiciário, Ministério Público, tribunais de contas, defensoria, advocacia pública e privada, OAB — temos que encarar de frente para poder avançar mais.”
Mesmo com críticas veladas e um discurso autoprotetor, Moraes foi aplaudido e defendido no evento. O ministro do TSE Floriano de Azevedo Marques Neto, indicado por ele próprio ao cargo, afirmou: “Todos que somos democratas devemos muito ao ministro Alexandre”. Para encerrar, a cantora Paula Lima dedicou-lhe a música “Não Deixe o Samba Morrer” — ironicamente apropriada para quem tenta manter o ritmo de sua narrativa.