A Polícia Federal do Brasil, que deveria zelar pela legalidade e pela preservação de direitos, protagonizou um episódio estarrecedor: ao divulgar publicamente um relatório de inquérito conduzido por ordem do ministro Alexandre de Moraes, a corporação expôs o telefone pessoal do advogado norte-americano Martin De Luca, representante de Donald Trump e da plataforma Rumble nos EUA.
O resultado foi imediato e devastador. Poucas horas após a publicação do documento no site do Supremo Tribunal Federal, De Luca e sua família passaram a ser alvo de mensagens de intimidação e ameaças, em um claro movimento orquestrado para constrangê-lo e silenciá-lo.
O erro — ou ação deliberada — da PF fere princípios elementares de proteção de dados e sigilo. Não há justificativa plausível para a inclusão de um contato telefônico pessoal em relatório público, acessível a qualquer cidadão, sem qualquer tarja de ocultação. A alegação de que “todos os dados relevantes” devem constar do inquérito é frágil e inaceitável. Relevante para a investigação não significa expor uma pessoa ao linchamento virtual.
O episódio evidencia não apenas negligência administrativa, mas também irresponsabilidade institucional. A Polícia Federal, que goza de credibilidade internacional, agora aparece como cúmplice de uma operação que extrapola os limites da investigação criminal para adentrar o campo da perseguição política.
Não é coincidência que as ameaças tenham surgido de forma quase instantânea após a divulgação do número. O efeito era previsível e esperado. O vazamento de dados pessoais, em um ambiente polarizado e inflamado, é praticamente um convite para que militantes ou grupos organizados ataquem a vítima.
Ao expor De Luca, a PF não apenas comprometeu a segurança dele e de sua família, como também interferiu diretamente na liberdade de atuação de um advogado estrangeiro, ampliando a sensação de que o Brasil vive sob um regime em que até defensores jurídicos passam a ser perseguidos.
O caso gera um precedente gravíssimo. Se até um advogado internacional, ligado a um ex-presidente dos Estados Unidos, pode ter sua privacidade e segurança violadas em um inquérito conduzido pela Polícia Federal, qualquer cidadão brasileiro está sujeito ao mesmo abuso.
Trata-se de mais um capítulo que reforça a crítica de que investigações sob a tutela do STF e executadas pela PF perderam a neutralidade e passaram a ser instrumentos de pressão e intimidação.
O episódio não é apenas um erro burocrático. É uma demonstração clara de como a Polícia Federal se permitiu politizar suas ações e, ao invés de proteger, passou a expor. A corporação, que deveria estar entre os pilares da legalidade, precisa urgentemente ser cobrada e responsabilizada.
O silêncio institucional e a tentativa de justificar o injustificável apenas confirmam que a PF deixou de ser mera investigadora para assumir papel de agente político de intimidação, o que fere o Estado de Direito e mancha a credibilidade da Justiça brasileira diante do mundo.
*Imagem IA