O episódio envolvendo o deputado federal Hugo Motta (Republicanos-PB) é mais um retrato do distanciamento de parte da classe política da realidade da população brasileira. Enquanto milhões de cidadãos enfrentam dificuldades econômicas, cortes em áreas essenciais e filas nos hospitais, Motta decidiu usar dinheiro público — proveniente do Fundo Partidário — para fretar um jatinho particular e comparecer a uma festa de aniversário do senador Jader Barbalho, em Belém, no Pará.
O custo da viagem, de aproximadamente R$ 110 mil, foi bancado pelo partido, mas pago com recursos que têm origem direta no bolso do contribuinte. O detalhe mais escandaloso: Motta foi o único passageiro da aeronave, embarcando em Brasília, comparecendo ao evento festivo e retornando poucas horas depois. Em outras palavras, tratou a verba pública como se fosse um cartão de crédito pessoal, ignorando qualquer noção de austeridade ou responsabilidade.
A própria área técnica do Tribunal de Contas da União (TCU) já apontou indícios de desvio de finalidade. O Fundo Partidário foi criado para garantir a manutenção administrativa das siglas e custear atividades ligadas à democracia e ao processo eleitoral. Jamais para bancar jatinhos a eventos particulares. O caso, inclusive, deve ser encaminhado ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para apuração, evidenciando a gravidade da conduta.
Ainda que o valor esteja abaixo do limite que obriga o TCU a abrir uma Tomada de Contas Especial, o fato é que R$ 110 mil pagos indevidamente continuam sendo R$ 110 mil arrancados da população para sustentar privilégios e vaidades.
O gesto de Hugo Motta soa como deboche com o povo. Participar de uma festa de aniversário bancado por dinheiro público reforça a imagem de uma elite política que se julga acima da lei, sem obrigação de prestar contas de seus atos.
É justamente esse tipo de comportamento que corrói a confiança da sociedade nas instituições e amplia a revolta contra a classe política. O discurso da austeridade, da moralidade e da responsabilidade cai por terra quando o mesmo representante que deveria zelar pelo erário se aproveita dele em benefício próprio.
Se não há punição exemplar em casos assim, que mensagem passa o Parlamento ao cidadão comum? Que um trabalhador pode ser processado por dever uma conta de energia, mas um deputado pode usar jatinhos pagos com verba pública sem maiores consequências?
Hugo Motta deve explicações claras e convincentes, não apenas à Justiça Eleitoral, mas principalmente ao povo brasileiro. Afinal, quem paga a conta não são partidos, não são políticos: somos todos nós, contribuintes.