A Secretaria de Saúde de Brusque vive um cenário crítico, com um déficit milionário que ameaça a manutenção dos serviços básicos do município. O rombo, estimado em R$ 20 milhões, foi herdado da gestão da ex-secretária Thayse Rosa, que deixou o cargo no final de maio deste ano. Ela havia assumido a pasta em agosto de 2023, a convite do prefeito André Vechi.
Em entrevista exclusiva concedida ao Olhar do Vale, o atual secretário, infectologista Ricardo Freitas, que está há 90 dias no cargo, afirmou que a prioridade agora não é anunciar novos projetos, mas “arrumar a casa” para evitar o colapso do sistema.
Segundo Freitas, a secretaria foi deixada “engessada do ponto de vista financeiro e orçamentário”. Ele avalia que será preciso um ano inteiro apenas para reorganizar as contas antes de pensar em novas ações.
O secretário destacou que há um descompasso entre orçamento e realidade financeira, comprometendo até os serviços mais básicos. Como exemplo, citou a ampliação das equipes de saúde da família, que aumentou a demanda por exames laboratoriais sem a contrapartida de recursos. Isso inviabilizou contratações, ampliações de atendimento e novos investimentos.
“Não consigo aumentar a demanda porque a folha já está no limite. Só consigo contratar um médico novo se outro sair, ou em casos emergenciais. Cada decisão exige cortar de algum lado”, explicou.
Freitas relatou ainda problemas estruturais em várias unidades, inclusive algumas recém-construídas, com infiltrações e rede elétrica deficiente. Toda semana, segundo ele, é necessário fechar ao menos um posto para reparos.
Outro ponto crítico foi a expansão das equipes de saúde da família. Embora a proposta de dobrar atendimentos fosse positiva, a execução foi falha: sobreposição de horários, redução de carga horária e pacientes presos a médicos específicos geraram confusão.
Todos os contratos da secretaria estão sendo auditados, após relatos de serviços prestados sem cobertura contratual. O caso será encaminhado à Procuradoria do Município.
Já os convênios com os hospitais Azambuja e Dom Joaquim, que vencem em dezembro, passam por reformulação. “Cada serviço terá o valor discriminado, facilitando a fiscalização e dando transparência à população”, disse Freitas.
A burocracia é outro entrave. Compras simples, como lâmpadas, dependem de licitações que envolvem toda a Prefeitura, deixando unidades sem estrutura adequada.
A obra do Posto de Saúde do Centro, contestada por problemas no terreno, também foi comentada. Segundo o secretário, não há como revertê-la, cabendo agora reforços estruturais para dar segurança.
Apesar das dificuldades, Freitas garantiu que alguns projetos seguirão ativos. O Uber da Saúde será mantido, mas restrito a pacientes oncológicos, em diálise, acamados e PCDs. Já a Casa do Autista deve ser inaugurada até janeiro de 2025. Além disso, parceria com a UNIFEBE prevê a revitalização de todas as UBSs até o fim de 2025.
O secretário projeta ao menos um ano de ajustes antes de retomar novos projetos. “Todos os planos mirabolantes terão que esperar. Nossa missão é garantir que a rede funcione, que não falte medicamento, que os hospitais recebam e que a população não seja prejudicada”, afirmou.
Ele pediu ainda compreensão da comunidade: “Paciência é difícil quando se precisa de saúde, mas estamos trabalhando dia e noite para reorganizar a rede. Tenho certeza de que vamos dar a volta por cima”.
*Esta reportagem é originalmente e exclusivamente do site Olhar do Vale.
*O registro também é de reconhecimento ao jornalista Anderson Vieira, que assina a matéria e se destaca pela apuração criteriosa e pela relevância dada ao debate sobre a saúde pública de Brusque.