O Brasil tem assistido, estarrecido, à escalada autoritária comandada de dentro do próprio Supremo Tribunal Federal (STF). À frente desse projeto de poder, Alexandre de Moraes construiu para si a imagem de xerife da República, mas o que os documentos e depoimentos recentes revelaram é ainda mais grave: práticas que se aproximam do crime organizado, com manipulação processual, perseguição política e uso indevido das instituições.
As revelações do ex-assessor Eduardo Tagliaferro escancararam o modus operandi de Moraes. Segundo os relatos, denúncias contra adversários políticos não surgiam de forma espontânea, mas “encomendadas” diretamente do gabinete do ministro. Ordens eram transmitidas por canais informais de WhatsApp, sem qualquer registro oficial, determinando a produção de relatórios para sustentar inquéritos já previamente direcionados.
Ou seja: em vez de o Judiciário ser guardião da legalidade, passou a ser o motor de uma máquina de perseguição política, fabricando provas e alimentando inquéritos com documentos sem validade processual. O TSE, sob comando de Moraes, foi transformado em órgão de espionagem, produzindo relatórios que jamais deveriam ter sido de sua competência.
Os episódios de 8 de janeiro mostraram o ápice da seletividade judicial. Centenas de pessoas foram presas em massa, muitas sem qualquer envolvimento direto em depredação, e mantidas em cárcere a partir de “certidões” produzidas nos bastidores. Informações colhidas em redes sociais ou simples indícios digitais foram suficientes para prolongar prisões, sempre sob a caneta de Moraes.
As audiências de custódia, que deveriam garantir direitos fundamentais, tornaram-se teatro: juízes de instâncias inferiores limitavam-se a ratificar ordens vindas do STF. Era o fim da imparcialidade e a consagração de um modelo inquisitório, onde a palavra de um homem se sobrepõe às garantias constitucionais de toda uma população.
Não bastasse o abuso no campo penal, Moraes expandiu sua sombra sobre a liberdade de expressão. Jornalistas, comunicadores independentes e até cidadãos comuns foram alvo de censura judicial, bloqueio de contas e retirada de conteúdos. A justificativa sempre a mesma: “combater a desinformação”. Mas, na prática, a ferramenta se transformou em arma de silenciamento político, atingindo vozes dissidentes e blindando a narrativa oficial.
A verdade inconveniente é que Moraes montou um aparato digital de vigilância, alimentado por relatórios da chamada AEED (Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação), convertida em uma polícia política clandestina. Provas mostram que sistemas biométricos, bancos de dados judiciais e até monitoramento em redes sociais foram usados de forma paralela e ilegal.
As revelações de Tagliaferro e dos documentos conhecidos como “Arquivos do 8 de Janeiro” apontam para uma mesma direção: Alexandre de Moraes concentra poder absoluto, opera sem transparência, manipula processos e usa a toga como escudo. No entanto, mesmo diante de denúncias graves, ainda não há reação proporcional das demais instituições da República. O Legislativo se cala, o Executivo se curva e o Judiciário se autocongratula.
Enquanto isso, um único homem age como legislador, juiz e carrasco, sem freios e sem limites. O que era para ser um tribunal constitucional virou instrumento de perseguição, e a democracia brasileira permanece sequestrada por uma toga que se acredita acima da lei.
*Imagem IA