Milhares de pessoas estão reunidas para a manifestação do 7 de Setembro, em São Paulo, para protestar pelo impeachment do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e pela defesa da liberdade de expressão. Vestidas de verde e amarelo, elas já ocupam várias quadras da Avenida Paulista enquanto aguardam os pronunciamentos de Jair Bolsonaro (PL) e outros apoiadores do ex-presidente, previstos para as 14h.
Os manifestantes começaram a chegar ao local do ato ainda pela manhã, alguns carregando bandeiras do Brasil e de Israel e cartazes de "Fora Xandão". Mensagens de agradecimento ao empresário Elon Musk, dono da rede social X que desafiou ordens do Moraes, também eram vistas. O ator de performance Beckembauer da Silva Santos, 47 anos, foi protestar vestido de águia da liberdade amordaçada, carregando uma bandeira do Brasil e do X. "Não interessa quem você é, todos têm direito de falar, trabalhar e de se expressar. Ninguém pode ser preso ou multado sem ao menos ter o direito de se defender", disse ele à reportagem da Gazeta do Povo.
Há uma forte presença da polícia nos arredores. Na avenida Pamplona, policiais militares revistavam as pessoas antes de elas passarem pelas grades que levam à Avenida Paulista.
Bolsonaro passa mal, mas confirma presença no ato da Paulista
Tendo como mote o pedido de afastamento de Moraes, os organizadores do ato esperam que a mobilização deste sábado atraia mais pessoas do que a realizada em fevereiro na Paulista após uma operação da Polícia Federal contra Bolsonaro. O objetivo agora é sensibilizar senadores para a abertura do impeachment e alertar a comunidade internacional sobre abusos nas decisões do ministro do STF.
Um caminhão de som contratado pelo pastor Silas Malafaia será usado como palanque para os principais discursos do dia, que devem ocorrer nesta ordem: deputados federais Eduardo Bolsonaro (PL-SP), Bia Kicis (PL-DF), Júlia Zanatta (PL-SC), Gustavo Gayer (PL-GO) e Nikolas Ferreira (PL-MG), senador Magno Malta (PL-ES), governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, pastor Silas Malafaia e Bolsonaro.
Prestes a ser indiciado pela Polícia Federal por suposta tentativa de golpe, Bolsonaro deve moderar o tom em relação a Moraes, relator do inquérito. “Bolsonaro não me dá satisfação do que fala. Eu acredito que ele não vai falar em impeachment por causa do inquérito. O resto da turma vai pedir. Vai ter pressão”, disse Malafaia à Gazeta do Povo.
Na manhã deste sábado, Bolsonaro passou por uma avaliação médica no Hospital Albert Einstein devido a um quadro gripal, mas manteve sua participação no ato da Paulista. Ele saiu do hospital pouco antes do meio dia e retornou ao Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, onde está hospedado.
Há previsão de que outros três caminhões de som participem do evento. De um desses veículos, ativistas e mais políticos da direita devem discursar, incluindo o deputado Marcel Van Hattem (Novo-RS), autor de um pedido de CPI na Câmara para investigar Moraes; o ex-procurador e ex-deputado Deltan Dallagnol; o juiz aposentado Sebastião Coelho; o jornalista americano Michael Schallenberger, e a candidata a prefeita Marina Helena (Novo).
Pelo menos 56 deputados federais e senadores confirmaram presença no ato e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), também estará presente. Vários candidatos a vereador em São Paulo, ligados à direita, estão levando faixas com seus nomes para o protesto. É esperada também a participação do prefeito e candidato à reeleição Ricardo Nunes (MDB).
Outras capitais terão ato contra Moraes
Além de São Paulo, ao menos outras 14 capitais devem reunir manifestantes a favor do impeachment de Moraes: Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Vitória, Curitiba, Florianópolis, Porto Alegre, Salvador, Fortaleza, João Pessoa, Natal, Aracaju, Belém, Campo Grande e Goiânia. O ex-presidente Jair Bolsonaro havia pedido para que os manifestantes se reunissem apenas na Avenida Paulista, em São Paulo.
Decisões de Moraes impulsionam manifestação do 7 de setembro
A manifestação de 7 de Setembro de 2024 ganhou tração após a derrubada da rede social X no Brasil e a aplicação de multa de R$ 50 mil para quem acessar a plataforma do empresário Elon Musk por meio de VPN (rede privada virtual de internet), ambas ordenadas pelo ministro Alexandre de Moraes na semana passada e ratificadas pela Primeira Turma do STF na segunda-feira.
As medidas foram vistas pela direita como um ataque à liberdade de expressão e, somada a outras decisões do ministro como o bloqueio às contas da Starlink, censura a perfis da direita nas redes sociais, as prisões do 8 de janeiro de 2023 e o inquérito das fake news, está mobilizando um extenso pedido de impeachment contra o magistrado, que deve ser apresentado no Senado na segunda-feira (9).
Em retaliação ao banimento do X, Musk criou a conta “Alexandre Files” na rede social e passou a divulgar ordens do ministro à empresa para bloquear perfis conservadores na plataforma. O empresário argumenta que essas ordens seriam ilegais por caracterizarem censura prévia. “Fomos forçados a compartilhar essas ordens porque não há transparência do tribunal, e as pessoas que estão sendo censuradas não têm recurso para apelar. Nossos próprios recursos foram ignorados", disse o empresário.
Nesta sexta, um dia antes das manifestações, a conta Alexandre Files divulgou mais um ofício assinado por Moraes em 14 de novembro de 2022, em que o ministro exigia que tanto o X - ainda chamado Twitter - quanto o Facebook bloqueassem e enviassem os dados cadastrais das contas de três usuários - inclusive um cantor gospel – no período de duas horas sob pena de multa de R$ 100 mil por dia.
Outro fator que está fomentando os protestos contra Moraes é o vazamento de mensagens trocadas entre assessores do ministro, quando ele era presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). As conversas, reveladas pela Folha de S. Paulo em uma série de reportagens, mostraram a existência de um gabinete paralelo contra a direita dentro do Judiciário brasileiro. Um dos alvos foi o jornalista Rodrigo Constantino, colunista da Gazeta do Povo. Na época, em nota enviada à Gazeta do Povo, o gabinete do ministro Alexandre de Moraes negou qualquer irregularidade nas requisições dos relatórios ao TSE, argumentando que a corte eleitoral, "no exercício do poder de polícia, tem competência para a realização de relatórios sobre atividades ilícitas".
Mais recentemente, o jornal paulista revelou que Moraes teria mandado TSE “endurecer” ofensiva contra o X após Musk comprar o antigo Twitter.
Embate Musk x Moraes deve atrair atenção internacional para o ato na Paulista
Os embates, retóricos e judiciais, entre Moraes e Musk também estão aumentando as atenções da comunidade internacional para a manifestação na Paulista. Nesta semana, o empresário sulafricano endossou o protesto ao comentar que o ministro do STF deveria sofrer impeachment “por violar seu juramento de posse” e que a prisão de Moraes seria “apenas uma questão de tempo”.
O bloqueio do X no Brasil já gerou repercussões internacionais negativas. Em um editorial publicado na quarta-feira, o jornal americano Washington Post afirmou que a decisão de Moraes foi autoritária e que Musk “está correto quando diz que a decisão de um jurista brasileiro de proibir unilateralmente o X, do qual ele é dono, de operar no país é um ataque à liberdade de expressão na internet”.
Nesta sexta, um grupo de advogados conservadores dos Estados Unidos enviou uma carta à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) para que intervenha no Brasil a respeito do bloqueio à rede social X.