O que parecia ser uma história de heroísmo e empatia está tomando contornos de absurdo jurídico. Um homem que utilizou uma prancha de stand-up paddle para libertar uma baleia-franca enredada em uma rede de pesca na Praia da Pinheira, no litoral catarinense, agora está sendo investigado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) por possível "importunação à fauna".
O episódio ocorreu no sábado (12), quando a baleia, espécie ameaçada e protegida, foi flagrada por banhistas com parte do corpo enroscado em uma rede. Em poucos minutos, o homem se aproximou com cuidado, analisou a situação e retirou a rede, permitindo que o animal seguisse livre pelo mar. O momento foi filmado e ganhou as redes sociais.
Contudo, ao invés de elogios por sua coragem e compaixão, o protagonista da ação agora pode enfrentar sanções legais. O IBAMA alega que ele não possuía autorização para intervir e que a remoção da rede não seria necessária, pois o artefato poderia "se desprender naturalmente".
Críticas à postura do IBAMA
A decisão do órgão federal de abrir investigação provocou forte reação de ambientalistas, juristas, populares e parlamentares. Para muitos, o caso representa o excesso da burocracia sobre o bom senso.
É inaceitável que alguém que agiu por instinto de preservação e com extremo cuidado seja tratado como infrator. Isso é mais do que desproporcional.
Nas redes sociais, o tom é de revolta. Internautas acusam o IBAMA de “penalizar quem ajuda” e questionam onde estavam os fiscais e equipes técnicas quando a baleia precisou de ajuda.
Afastamento da realidade
A crítica central ao IBAMA é a desconexão entre seus protocolos rígidos e as urgências da vida real. Em um país onde a fiscalização ambiental é precária e o mar muitas vezes não conta com equipes especializadas à disposição imediata, punir um cidadão que agiu com zelo pela vida animal soa, no mínimo, incoerente.
Enquanto crimes ambientais como desmatamento, pesca ilegal e poluição industrial muitas vezes permanecem impunes, o Estado volta sua força contra um civil movido por consciência ecológica. O paradoxo é evidente: a burocracia tenta enquadrar um gesto de coragem e humanidade como infração ambiental.
O episódio reacende a discussão sobre o papel do cidadão comum na proteção da fauna silvestre. Se a regra impede o bom senso, talvez seja hora de repensar a regra. O homem que salvou a baleia não deveria ser réu — deveria ser exemplo.