Ex-juiz auxiliar de Alexandre de Moraes, Airton Vieira atuou com desvelo na perseguição à direita durante as eleições de 2022. Encerrado o pleito, encontrava-se esgotado e preparava sua saída do gabinete do ministro no Supremo. Mas, para seu desespero, veio o 8 de Janeiro e Moraes dobrou a aposta.
Em áudio enviado para Eduardo Tagliaferro, Vieira desabou em janeiro de 2023: “Não estou aguentando mais”.
Na época, Tagliaferro comandava no TSE a produção de fichamentos ideológicos contra detidos do 8 de Janeiro a mando do ministro. Vieira, junto ao também juiz auxiliar Marco Vargas e a chefe de gabinete de Moraes, participava da empreitada.
“Realmente, a coisa está feia, viu? Não estou aguentando mais em termos físicos, psicológicos, emocionais. Eu não consigo dormir sossegado, eu não tenho tranquilidade. (Suspiro.) Estou perdendo completamente a higidez mental, o pouco que eu ainda tinha”, disse no áudio o juiz.
A conexão com as revelações da Vaza Toga 2, que tratou da produção dos fichamentos no contexto das audiências de custódia, vem em seguida: “Realmente, até depois em questões de audiência de custódia, sabe, ele vem dando palpite. Espera um pouco, né?”
“Olha, eu não sei como vai evoluir isso, honestamente falando”, continuou Vieira. “Mas eu sei que eu já cheguei ao meu limite. Aliás, já ultrapassei o meu limite faz tempo”.
Um mês antes da reclamação, Vieira havia instruído Tagliaferro a procurar provas contra a revista Oeste, de linha editorial conservadora. Quando Tagliaferro retornou dizendo que não havia encontrado nada incriminador, o juiz disse “Use a sua criatividade… rsrsrs”.
Vieira termina o áudio dizendo que seguraria as pontas por mais tempo, para não parecer que estava pulando fora do barco e deixando Moraes “na mão”. “Mas está muito, muito, muito difícil. Minha família está sendo extremamente prejudicada”, reclamou o magistrado.
A reclamação parece dizer respeito à pressão de Moraes por um ritmo de trabalho que fontes da Vaza Toga 2 chamaram de “desumano”. Era “o ritmo do ministro”, como disse a chefe de gabinete de Moraes no STF, Cristina Yukiko Kusahara, que comandava a operação e trazia as ordens do ministro.
“Essa situação, sabe? Pressão para tudo quanto é lado, cobrança. O que a gente fala não tem crédito. Tudo para anteontem. É muito difícil”, concluiu Vieira.
O áudio foi publicado hoje pela coluna de Paulo Cappelli no portal Metrópoles. A coluna relatou que a data do áudio é 14 de janeiro de 2023, um dia depois de Kusahara ter aberto um grupo no WhatsApp para coordenar a produção dos fichamentos, como revelou a Vaza Toga 2 na semana passada.
Airton Vieira é alvo de uma reclamação no CNJ aberta pelo líder da oposição no Senado, por causa das revelações.