O país atravessa uma crise institucional sem precedentes, em que cidadãos foram presos, humilhados e condenados sem provas sólidas, em penas superiores a traficantes e assassionos, em processos conduzidos sob motivação política. Em meio a este cenário de arbitrariedades, o cantor Júnior, filho de Xororó e integrante da então dupla Sandy & Júnior, resolveu se levantar contra a proposta de anistia aos inocentes — entre eles, centenas de pais e mães de família que apenas exerceram o direito de se manifestar e comprovadamente não estavam dentre aos baderneiros que quebraram algo.
O artista, de carreira garantida pelo sobrenome e pelo sucesso herdado, agora tenta ocupar o palco da militância de esquerda. Seu discurso, no entanto, revela desprezo pela realidade de milhares de brasileiros que não têm privilégios, nem microfones, e que viram suas vidas destruídas por perseguições judiciais.
Ao invés de se solidarizar com famílias atingidas por medidas autoritárias, Júnior preferiu repetir a narrativa do regime, tentando desqualificar a luta legítima por justiça. É a velha prática: artistas de elite, protegidos pela bolha cultural e econômica, ecoando as palavras de ordem do sistema em troca de aplausos fáceis nas redes sociais.
Curiosamente, quando a violência explode nas ruas, quando a inflação corrói a mesa do trabalhador e quando o governo se cala diante da insegurança nacional, figuras como Júnior se calam. Mas basta surgir a possibilidade de devolver dignidade a cidadãos injustamente punidos, que surgem inflamados para condenar qualquer gesto de clemência.
O episódio expõe a distância entre a realidade de brasileiros comuns e a visão de artistas acomodados na fama. Enquanto famílias lutam para sobreviver, homens e mulheres encaram dívidas e humilhações após prisões arbitrárias, Júnior prefere gritar contra a anistia. Sua postura simboliza um ativismo de vitrine, vazio de humanidade e lotado de oportunismo.