Com o Nobel da Paz, María Corina Machado e o endurecimento da pressão dos EUA elevam expectativa de ruptura do regime Maduro

    10/10/2025 18h07 - Atualizado há 2 dias

    Em um momento simbólico e potencialmente decisivo para o futuro da Venezuela, María Corina Machado, líder da oposição venezuelana, foi laureada com o Prêmio Nobel da Paz 2025, em reconhecimento por sua luta persistente por democracia e direitos civis sob a repressiva administração de Nicolás Maduro.

    O reconhecimento internacional se soma a uma nova escalada de medidas adotadas pelos Estados Unidos sob o governo Donald Trump — que vão de sanções econômicas intensificadas a ações militares e diplomáticas — despertando especulações sobre se essas forças combinadas poderiam aproximar o fim do que opositores consideram um “regime terrorista”.

    O significado do prêmio

    O Comitê Nobel justificou a escolha mencionando que Machado é uma figura unificadora numa oposição historicamente fragmentada, e que sua persistência em meio a ameaças e tentativas de silenciamento constitui um exemplo de coragem civil.

    Machado, inabilitada para concorrer nas eleições presidenciais venezuelanas de 2024 por decisão judicial, optou por apoiar Edmundo González Urrutia, cujos resultados foram contestados e acusados de fraude.

    Em discurso de aceitação, dedicou o prêmio ao povo venezuelano e ao próprio Trump, a quem considerou um aliado importante na luta democrática.

    Esse reconhecimento internacional amplia a visibilidade da pressão sobre o regime chavista, oferecendo legitimidade moral à oposição, facilitando alianças diplomáticas e potencialmente estimulando dissidências internas.

    A estratégia mais dura de Washington

    Desde o retorno de Donald Trump à Presidência dos EUA, a abordagem contra o governo Maduro se tornou mais direta, agressiva e multifacetada.

    Militarização no Caribe e ataques navais

    Nos últimos meses, os EUA aumentaram sua presença naval no Caribe, justificando operações como parte da guerra ao narcotráfico. Um dos episódios mais emblemáticos foi o ataque aéreo de 2 de setembro de 2025, que afundou uma embarcação acusada de transportar drogas e operada por membros do grupo Tren de Aragua, resultando na morte dos 11 ocupantes.

    Esse tipo de ação marca uma mudança clara na retórica: os cartéis são tratados como “terroristas” — e suas conexões supostas com membros estatais venezuelanos são frequentemente invocadas para justificar intervenções extraterritoriais.

    Especialistas alertam, no entanto, que tais operações envolvem riscos estratégicos — escalada militar, repercussão legal, agravamento da crise humanitária e reações de alianças geopolíticas.

    Sanções econômicas e medidas comerciais

    No âmbito econômico, Trump assinou a Executive Order 14245, impondo tarifas de 25% a produtos importados pelos EUA de países que importem petróleo venezuelano.

    Além disso, o governo dos Estados Unidos revogou permissões de diálogo comercial com Caracas e intensificou sanções direcionadas aos setores energético e financeiro venezuelanos.

    Deportações e designações legais

    No início de 2025, o governo Trump utilizou a Alien Enemies Act (Lei dos Inimigos Estrangeiros) para deportar supostos membros do Tren de Aragua que estavam nos EUA, sob argumento de segurança nacional. 

    O grupo foi declarado Organização Terrorista Estrangeira (FTO), abrindo caminho legal para ações mais agressivas contra indivíduos e redes vinculadas. 

    Essas medidas mostram que, a despeito da retórica de combate aos cartéis, há uma interseção clara entre essa estratégia antinarcóticos e o esforço de minar o regime chavista.

    Pressão diplomática e risco de confronto

    Caracas, por sua vez, reagiu com veemência. Em carta ao Conselho de Segurança da ONU, o governo venezuelano denunciou uma “ameaça iminente” de ataque militar dos EUA e exigiu reunião emergencial.

    A diplomacia americana também foi ativada: os EUA autorizaram Trinidad e Tobago a negociar contratos de gás com a Venezuela, rompendo parte do isolamento energético de Caracas.

    No plano militar, o governo Trump posicionou aeronaves de combate em Porto Rico, em resposta a aviões venezuelanos que teriam voado próximo à costa norte-americana — ato interpretado como demonstração de força.

    Maduro reagiu ameaçando declarar “república em armas” e mobilizar milícias civis caso houvesse invasão ou intervenção externa. 

    Especialistas analisam que, embora o discurso oficial dos EUA negue o objetivo de regime change explícito, muitas ações operam nesse limite tênue.

    Estimulando fissuras internas: cenário de risco e oportunidade

    A combinação da visibilidade internacional conferida pelo Nobel com a pressão externa mais agressiva cria um ambiente propício para o surgimento de fissuras internas no regime venezuelano — sobretudo no alto escalão militar. Há indícios de que parte dos militares e burocracia venezuelana dependem da renda obtida por meio de rotas de narcotráfico, corrupção e controle territorial. 

    Cortar essas fontes de receita, por meio de bloqueios navais e sanções financeiras, pode fragilizar a lealdade a Maduro, incentivando deserções ou negociações de transição. 

    Entretanto, o regime ainda dispõe de aparatos repressivos robustos, controle das forças armadas e aparato judicial parcial. A população venezuelana, já exaurida por anos de crise econômica e humanitária, pode reagir com mobilizações populares, mas o risco de retaliação violenta é alto.

    Outro fator chave será como atores regionais e globais reagirão: Rússia, China, Cuba, Irã e aliados latino-americanos de Maduro podem intervir diplomática ou materialmente para sustentar o regime e contrabalançar a pressão estadunidense.

    Quanto falta para “o fim do regime”? Entre realismo e expectativas

    Embora o Nobel de Machado e as ações dos EUA intensifiquem a condição de pressão sobre Maduro, afirmar que o fim do regime está iminente seria um salto arriscado. A derrocada de regimes autoritários historicamente envolve crises internas profundas, rupturas no núcleo de poder e reconfigurações políticas complexas — nem sempre lineares.

    Ainda assim, o que estamos testemunhando é uma nova conjuntura:

    • A oposição venezuelana ganha fôlego moral e diplomático.

    • Estados Unidos adotam medidas cada vez mais agressivas e assertivas, algumas com respaldo militar.

    • O regime Maduro entra em modo defensivo, ameaçando confrontos e alienando possíveis aliados internos.

    Se as próximas etapas forem bem articuladas — convergência internacional, ruptura militar parcial, mobilização popular controlada — o cenário para uma transição democrática pacífica (ou talvez sem tanto “pacífica”) pode, de fato, estar mais próximo do que muitos esperavam.


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