Beto Vasques, sociólogo e diretor de Relações Institucionais do Instituto Democracia em Xeque (DX) — ONG com Neca Setubal em seu quadro de conselheiros — acredita que é a favor da “democracia”.
Porém, tanto em mensagens vazadas em que ele representava o DX junto à Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação (AEED) do TSE, quanto em textos públicos, parece que a “democracia” de Vasques envolve a exclusão da participação da direita.
Mensagens da Vaza Toga publicadas pela Revista Oeste revelaram que o instituto de Vasques ajudava a AEED, que fez fichamento ideológico dos detidos do 8 de Janeiro, a monitorar opiniões políticas nas redes sociais.
Quando Luiz Inácio Lula da Silva ganhou o segundo turno em 30 de outubro de 2022, Vasques não disfarçou seu contentamento no grupo de WhatsApp do TSE: “Viva o Povo Soberano, Viva o Brasil!”, ele disse, compartilhando uma hora depois um “DX Boletim Extraordinário – Lula Presidente”: “redes da extrema direita não questionaram, até o momento, o resultado”.
Cuspindo ódio contra a direita, mas é pela democracia
Em texto do último dia 12 para o site The Conversation, Vasques demonstrou profunda irritação com os parlamentares pró-Bolsonaro que obstruíram no início do mês as Mesas da Câmara e do Senado para fazer pressão contra o bloqueio dos presidentes de ambas a projetos como a anistia do 8 de Janeiro e o impeachment de Alexandre de Moraes.
Para o sociólogo, a obstrução foi um “sequestro” e as cenas “jamais vistas” no Congresso. Ele endossou o rótulo aplicado pela jornalista Maria Cristina Fernandes ao incidente: “8 de Janeiro de paletó”.
“O episódio desnudou como poucos a essência do fazer político da extrema-direita antidemocrática global”, afirmou Vasques, em tom de teoria da conspiração — só que esta é aprovada. Para ele, a obstrução foi um “proceder violento, típico de milícia ou máfia”. Ele alegou que a deputada Julia Zanatta (PL-SC) usou sua bebê como “escudo”.
O sociólogo, como é obrigatório agora na esquerda, pede por mais regulação das redes sociais e cita, sem mencionar sua participação, “a experiência do TSE no enfrentamento a ataques ao processo eleitoral, além do julgamento do golpe de 8 de janeiro”.
A recomendação do ongueiro, que ao contrário do resto dos cidadãos falava ao pé do ouvido dos funcionários do TSE, é clara: “punir com rigor os sequestradores do Congresso, preferencialmente com perda de mandato dos mais violentos ou em posição de liderança do assalto”.
A direita permitida e o duplo padrão
Mui democrático, claro, Beto Vasques alega que o que ele quer é defender a “direita institucional” e a “direita democrática nativa”, vítima do “sequestro da extrema-direita”. Deve ser uma direita permitida pela esquerda, algo como o PSDB: uma direita que traz a ideologia de esquerda da “social-democracia” já no nome.
Outro problema da perspectiva de Vasques é a amnésia. Longe de serem cenas “jamais vistas”, as obstruções do Congresso já foram usadas pela esquerda. Em 11 de julho de 2017, no governo de Michel Temer, senadoras da oposição (PT, PCdoB, PSB etc.) ocuparam a Mesa do Plenário para tentar impedir a votação da reforma trabalhista. A sessão ficou suspensa por horas e o presidente da casa cortou luz e som.
Meses antes, em 26 de abril de 2017, também na tramitação da reforma trabalhista, a deputada Luiza Erundina sentou-se na cadeira da presidência, gerando tumulto e atrasos. Isso também foi “sequestro” e “violência”, Beto?
Ignorar fatos como esses é a sina de falsos ponderados como Beto Vasques, que disfarçam muito mal que não só têm lado, como são radicais nesse lado enquanto fingem que querem a participação democrática do outro lado. Só se o outro lado se ajoelhar diante dele, claro.