“Aponte-me o homem e te direi o seu crime.”
A frase atribuída a um general soviético nos tempos do regime totalitário resume com perfeição o que está acontecendo no Brasil sob a caneta do ministro Alexandre de Moraes. O caso revelado nesta terça-feira, 2 de setembro de 2025, pelo ex-assessor do TSE, Eduardo Tagliaferro, escancara como a Suprema Corte passou a agir à semelhança de regimes autoritários, perseguindo pessoas antes de sequer haver crime, fabricando provas depois.
Em depoimento à Comissão de Segurança Pública do Senado, Tagliaferro afirmou que a operação de busca e apreensão contra empresários bolsonaristas — incluindo Luciano Hang, dono da Havan — foi realizada sem qualquer amparo legal. A ordem, segundo ele, partiu de Moraes logo após a publicação de uma reportagem do portal Metrópoles, em 17 de agosto de 2022, que mostrava supostas conversas de WhatsApp.
Sem checagem de autenticidade, sem investigação aprofundada, sem contraditório: ainda assim, o ministro determinou invasões de domicílio, apreensão de celulares e constrangimento público contra empresários cujo “crime” era, na prática, apenas ter opiniões políticas.
O que torna o episódio ainda mais escandaloso é que, conforme relatou Tagliaferro, o relatório usado como fundamentação jurídica foi produzido dias depois da operação. O documento teria sido finalizado em 28 de agosto de 2022, mas incluído no processo como se fosse de 22 de agosto, antes da decisão judicial.
Ou seja, para dar aparência de legalidade, Moraes teria recorrido a uma fraude processual, prática que constitui crime tipificado no Código Penal. O ministro do STF, que deveria proteger a lei, acabou se tornando ele próprio autor de uma adulteração.
O caso se encaixa na lógica soviética da frase inicial: primeiro escolhe-se o alvo, depois inventa-se o crime. Luciano Hang foi tratado como bandido em rede nacional, sua empresa foi alvo de busca às 6h da manhã, e sua reputação arranhada. Tudo isso, agora se comprova, com base em um processo montado artificialmente para atender aos interesses de um magistrado que age como inquisidor político.
As revelações de Tagliaferro colocam o STF na linha de tiro da opinião pública. Como confiar em uma Corte Suprema que utiliza relatórios adulterados para justificar perseguições? Como falar em democracia quando ministros escolhem inimigos políticos e criam crimes para enquadrá-los?
Se confirmadas, tais práticas configuram não apenas crime de responsabilidade, mas também a mais grave ameaça à democracia brasileira desde a redemocratização.