A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que condenou Alexandre Ramagem (PL-RJ) a 16 anos de prisão e decretou a perda de seu mandato abriu uma nova crise política no Congresso. Um dia depois do julgamento, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), passou a ser alvo de críticas duras de aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro e viu sua liderança questionada.
O deputado Maurício Marcon (Podemos-RS), um dos parlamentares mais combativos da oposição, foi direto ao ponto: defendeu publicamente a retirada de Motta do comando da Casa.
“Chegou a hora (ou já passou) de retirarmos Hugo Motta da presidência da Câmara dos Deputados”, escreveu o parlamentar nas redes sociais, em tom de ultimato, ao criticar a postura de Motta de cumprir sem resistência a determinação do STF sobre Ramagem.
O gesto de Marcon reflete o sentimento de insatisfação crescente entre parlamentares da oposição e até mesmo de setores do Centrão. Para muitos, Motta teria agido de forma submissa ao Judiciário, deixando de preservar a autonomia do Legislativo ao não levar a decisão sobre a perda de mandato de Ramagem para votação em plenário.
Deputados lembram que casos semelhantes, como o de Carla Zambelli (PL-SP), levantaram a discussão sobre a prerrogativa da própria Câmara de decidir sobre cassações. Ao abrir mão desse debate, Motta alimenta a percepção de que a Casa está fragilizada diante das pressões do Supremo.
A condenação de Ramagem e de outros aliados de Bolsonaro, incluindo o próprio ex-presidente, colocou mais um “abacaxi” no colo de Hugo Motta. Além de conduzir uma pauta legislativa já marcada por impasses, o presidente da Câmara agora enfrenta a desconfiança de quem esperava uma postura mais firme contra o avanço do STF sobre as competências do Parlamento.
Na prática, a reação de Marcon pode ser apenas o início de uma articulação maior para esvaziar a liderança de Motta. Se o clima de insatisfação crescer, a permanência dele na presidência da Câmara tende a se tornar cada vez mais insustentável.