A possível recondução de Paulo Gonet ao comando da Procuradoria-Geral da República expõe, mais uma vez, a distância entre os interesses da sociedade e a conveniência política dos senadores. O atual chefe do Ministério Público Federal, em quase dois anos de gestão, mostrou-se incapaz de exercer o papel constitucional de guardião da lei e fiscal da democracia.
Sob a chefia de Gonet, a PGR deixou de cumprir seu dever em momentos cruciais. Diante de abusos do Supremo Tribunal Federal, perseguições políticas e investigações que extrapolam limites constitucionais, o procurador-geral se manteve em silêncio — quando não alinhado, na prática, aos excessos. Essa passividade transformou o órgão que deveria limitar o poder em simples carimbador de decisões judiciais questionáveis.
A recondução, caso confirmada pelo Senado, não será apenas a continuidade de um mandato inexpressivo. Será a chancela de uma omissão que corrói a credibilidade das instituições. Ao aprovarem Gonet, os senadores estarão dizendo ao povo brasileiro que não se importam com a independência do Ministério Público, mas apenas em manter uma relação conveniente com quem se recusa a enfrentar os poderosos.
Cada voto favorável à recondução de Gonet será, em verdade, um voto contra a Constituição. Os senadores que se prestarem a esse papel assumem a condição de cúmplices: preferem acomodar-se ao jogo político do Palácio do Planalto e do STF a cumprir a missão de fiscalizar quem deveria defender os cidadãos. O Senado, que pela Constituição tem a tarefa de servir de contrapeso, mais uma vez se apequena.
A permanência de Paulo Gonet no cargo significa a confirmação de uma PGR domesticada, incapaz de exercer protagonismo na defesa do Estado de Direito. Para o Brasil, é a perda de mais uma instância de equilíbrio institucional. Para a sociedade, o recado é claro: não espere do Ministério Público Federal, sob essa liderança, a coragem de enfrentar arbitrariedades.