Gosto por holofotes e controladora. Essas são algumas informações que constam no livro Janja. A militante que se tornou primeira-dama, de Ciça Guedes e Murilo Fiuza de Melo. Ambos também são autores de Todas as mulheres dos presidentes, que conta a história de 34 primeiras-damas brasileiras. A obra vai ser lançada na quinta-feira 11, mas foi obtida pelo jornal Folha de S.Paulo.
Dividido em nove capítulos, o livro traça um perfil de Janja, da época da militância na juventude, quando se filiou ao PT aos 17 anos, aos primeiros meses do terceiro mandato de Lula. Além de entrevistas e de pesquisa dos autores, o livro cita reportagens da imprensa e publicações da primeira-dama nas redes sociais.
No prefácio, os autores afirmam que não se trata de uma biografia completa da socióloga, mas que a proposta é “revelar quem é Janja” para além da imagem “que o PT construiu para ela”. Eles citam pedidos de entrevistas declinados e “rígido controle de acesso” à primeira-dama.
Em um determinado trecho, o livro descreve o momento em que Janja conheceu Lula, entre fevereiro e março de 1994, numa edição das Caravanas da Cidadania no Sul do Brasil. Na ocasião, Janja era ligada ao diretório do PT de Ponta Grossa, no Paraná, e morava na cidade com o historiador Marco Aurélio Monteiro Pereira, com quem se relacionou, sem casar formalmente, por mais de uma década.
Janja e Lula também se encontraram algumas vezes, durante o período em que ela trabalhou em Itaipu. Os autores registram palestra do petista, em 2011, que ela organizou para a turma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia, da Escola Superior de Guerra, da qual fazia parte.
A relação romântica teria começado após um jogo de futebol organizado pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, em São Paulo, em dezembro de 2017. No ano seguinte, Janja acompanhou Lula como sua namorada numa caravana pelo Sul do país — a pedido do petista a “equipe estava proibida de fazer menção ao assunto”.
Lula foi preso em abril daquele ano. Conforme o livro, Janja esteve no prédio do Sindicato dos Metalúrgicos, em São Bernardo, no dia em que ele se entregou à Polícia Federal (PF) para se despedir do namorado.
Janja se tornou figura presente na vigília montada em frente à sede da Superintendência da PF em Curitiba e manteve perfil discreto. O namoro se tornou público em maio de 2019, quando Janja já tinha visitado o petista na cadeia cinco vezes — a primeira teria ocorrido em 18 de abril.
Os encontros com parentes aconteciam às quintas-feiras e duravam, em média, uma hora. Parte do horário da família foi cedido à namorada.
A obra fala em atritos da primeira-dama com o PT por conta de sua exposição — e diz que em dezembro de 2020 Janja “começou a dar sinais de que não iria seguir aquele roteiro de discrição por muito tempo”.
Naquele mês, Janja acompanhou Lula em viagem a Cuba, onde ele participaria das gravações de um documentário — o Brasil vivia a segunda onda da pandemia. “A divulgação da viagem era tudo o que o PT não queria”, diz o livro. “Janja, no entanto, publicou cinco posts.”
Em outra passagem, o livro diz que “Janja não gostou” de não ter aparecido em registros do encontro de Lula com o presidente da França, Emmanuel Macron, no fim de 2021, “por decisão da assessoria do petista”. A responsável pela assessoria chegou a ser demitida.
A participação ativa da primeira-dama na campanha causou estranhamento entre lideranças do partido, “ciosas do controle do entorno de Lula”.
O livro narra uma visita de Lula a uma feira de agricultura familiar em Natal. Nela, o petista foi “agarrado por vários militantes”, o que fez com que Janja se irritasse e pedisse que a visita fosse interrompida, “deixando correligionários contrariados”. “A partir do incidente, o acesso a Lula tornou-se mais controlado”, observa o livro.
Em outro capítulo, o livro conta que Janja discordou do ministro da Defesa, José Múcio, e foi contra a possibilidade de o Exército atuar via Garantia da Lei e da Ordem na contenção dos atos do 8 de janeiro, em Brasília.
Janja estava ao lado de Lula, quando o petista falou ao telefone e ouviu do ministro a sugestão. A primeira-dama reagiu: “GLO não, GLO é golpe, é golpe”. Lula decidiu decretar intervenção na segurança do Distrito Federal.
*RevistaOeste