O jornal The Washington Post publicou nesta segunda-feira (18) uma extensa entrevista com o Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). O tom da matéria é revelador: um magistrado que, já contestado no Brasil por sua postura autoritária, agora desafia até mesmo os Estados Unidos, que aplicaram sanções inéditas contra ele.
Alvo da Lei Global Magnitsky, usada para punir violadores de direitos humanos, Moraes viu seu visto norte-americano ser cancelado e tornou-se responsável por um efeito colateral grave: tarifas de 50% sobre produtos brasileiros. Em vez de reconhecer o isolamento internacional que ele mesmo causou, o ministro dobrou a aposta e declarou: “Não existe a menor possibilidade de recuar nem um milímetro.”
O governo de Donald Trump foi categórico ao classificar sua atuação como perseguição política, deixando claro que as sanções não atingem apenas o homem, mas também a credibilidade do sistema judicial que ele simboliza. Ainda assim, Moraes reagiu com soberba, insistindo em se apresentar como defensor da democracia, mesmo diante de acusações de censura, arbitrariedade e abuso de poder.
O próprio Washington Post descreveu Moraes como um “xerife da democracia”, um rótulo que expõe a contradição: nenhum juiz deveria se comportar como autoridade policial ou legislador. No entanto, no Brasil, o ministro concentrou poderes inéditos. Ordenou a suspensão de plataformas digitais, enfrentou diretamente Elon Musk, prendeu parlamentares e até afastou um governador eleito, Ibaneis Rocha.
O inquérito das “fake news”, iniciado em 2019, foi a chave para sua ascensão. Um inquérito irregular, criado de forma atípica, que nunca foi encerrado e que se transformou numa arma de perseguição política. Segundo o próprio Post, dentro do STF não há mais quem questione sua continuidade.
A entrevista também resgata vozes críticas. O ex-ministro Marco Aurélio Mello se disse “triste” com a deterioração institucional causada pela concentração de poder nas mãos de Moraes, advertindo que “a história é implacável”. Mas o atual detentor do poder na Corte prefere desdenhar. Para ele, os abusos são justificados por uma suposta “vacina contra o autoritarismo” — ironicamente, aplicada com métodos autoritários.
Ao enfrentar os Estados Unidos, Moraes ultrapassa a barreira da política interna e arrasta consigo a imagem do Brasil. Sua postura ameaça não apenas a separação dos poderes, mas também as relações diplomáticas e comerciais do país. O preço do personalismo togado já se traduz em sanções que atingem a economia nacional.
O que se vê é um magistrado que, sob o pretexto de “proteger a democracia”, age como líder de facção, perseguindo opositores e ignorando princípios fundamentais do Estado de Direito. Moraes tornou-se, para muitos, a personificação de uma ditadura judicial.
E a pergunta que o mundo se faz, agora ecoada em Washington, é: até onde Alexandre de Moraes pretende ir?